VIAGENS (lá fora): A Índia dos marajás e das praias do sul

Fiz uma visita à India de 5 semanas, tendo andado pelo Rajastão e mais a Sul na zona de Cochim e Goa. Uma experiência que há muito pretendia ter desses povos de religiões místicas e onde os séculos se confundem na nossa mente. Olhamos e poderemos facilmente imaginar o século XV e também estar no presente século XXI, tal é o contraste das imagens que se nos apresentam ao olhar.

Hoje optei por trazer um artigo dessa mesma Índia que alguém descreveu de uma outra forma e que a foi colorindo, e que espelha bem sentimentos de gentes da minha geração e de outras, de dois opostos sentires que só se vivem estando lá. A esse artigo adiciono fotos do meu olhar sobre essas terras de marajás, de ópio, de vacas e deuses que ainda hoje nos deixam curiosa a mente, tais como Hare Krishna.

http://www.youtube.com/watch?v=-KXk_8_8oLY&feature=player_embed...!

Assim escreveu o Armando Interata:

Era uma fronteira invisível, uma linha imaginária que separava fantasia da realidade.   Do lado de cá, Índia, um país estranho e incompreensível, mas com grande influência na minha imaginação.  O meu olhar para o país revelava sentimentos desorientados e antagônicos, de tal maneira que ao longo da vida fui construindo no pensamento uma forma tão bizarra quanto fantasiosa de classificação da Índia: na melhor das hipóteses uma versão do Inferno na Terra, o fim do mundo ou, ainda, o que eu imaginava ser o mundo perto de seu fim.    Aquela aversão impunha-se asquerosa, fedorenta, como se o pensamento não viesse da mente.   A Índia figurava como um lugar tão obscuro na minha mente que qualquer pensamento jamais aproximara-se de torná-la um desejo, mesmo quando ocasionalmente despertava-me certa curiosidade na transposição daquela fronteira imaginária. Todavia permanecia uma Índia particular, a minha Índia, tão miserável e contaminada que eu temia até mesmo imaginar, quanto mais desejar. 

 

A dura realidade de uma viagem àquele país tão complexo representava uma experiência indesejável, insana, quase uma irresponsabilidade não construtiva, um desatino!. A Índia resumia-se em algo inteiramente dispensável, ainda que vez por outra me provocasse, que a curiosidade traísse a aversão.  Todavia todos aqueles sentimentos não passavam de um misto complexo, quase incompreensível,  um “desejo-repulsa”, um “amor-desamor”, uma “hostilidade-atração” ou “amor que aniquila”.

 

 New Delhi - Galeria de Damon Lynch no Flickr

                    AO contrário da chamada novela, a minha” Índia não era tão exuberante, não tinha palácios nem templos, não era colorida, nem cheia de sons, não era exótica, tampouco atraente.  A minha Índia resumia-se em miséria e fome, contida no desprezível sistema de castas, mostrada nas vacas sagradas a vaguearem nas ruas disputando o lixo com todo o outro universo gigantesco de toda a sorte de indivíduos igualmente miseráveis e desasistidos: de homens a ratos.   Era o país dos loucos sadhus, dos corpos putrefatos boiando no Ganges, de bem maior feíura que beleza, dos casamentos arranjados, da desvalorização da mulher, dos rituais religiosos pra lá de esquisitos, de tão numerosas quanto estranhas divindades.

 

                    DIZEM que odiar é também uma forma de amar, ainda que diferente. Definem os espertos que é assim, porque o coração nem sempre consegue identificar e classificar todos os sentimentos com a mesma precisão. Friedrich Nietzsche definiu tal reação escrevendo que “odiamos apenas o que está a nossa altura ou é superior a nós”. Foi lendo tal definição que compreendi que a Índia era muito superior a mim. Talvez tenha sido essa a semente para que o tempo - o tal senhor da razão, que amadurece o corpo e atenua a mente -  transformasse o desprezo em sonho.  Foi assim, sem perceber, que sucumbi ao “canto da sereia”, ainda que soubesse de seus perigos. 

 

    A Índia me chamava como as ninfas do mar, cujas vozes tão mágicas e sedutoras atraíam os marinheiros que navegavam junto aos rochedos de Capri.  Tão lindas elas eram, tão doces os seus cantos,  tão trágicas suas consequências: a colisão dos navios com os rochedos e seu aprisionamento para o serviço eterno às ninfas do mar.

 

              Galeria de carf FLICKR   

  DA aversão ao sonho,  para nascer o desejo de cruzar aquela fronteira foram necessários muitos anos.  Da fantasia à realidade, uma viagem à Índia foi surgindo timidamente, como num processo de ampliação fotográfica em preto e branco, aquele em que as imagens vão surgindo aos poucos no papel fotográfico mergulhado na solução química reveladora.   Como fantasmas a se materializarem, o que fora gravado no papel vai aparecendo lentamente até atingir a plenitude da definição.  Da ausência de tudo representada pela alvura do papel ao contraste pleno de pretos, barncos e cinzas, daquele jeito bem mágico e romântico que só os apaixonados pela ampliação fotográfica conseguem definir, assim foi-se revelando aquele país tão obscuro, como num processo fotográfico em preto e branco. (*)

 

(*) Nota: quanto eu tinha 15 anos, eu e meu irmão mais velho tínhamos gosto e algum conhecimento em revelação fotográfica.  Num quarto de empregada desativado montamos nosso próprio laboratório. Era nele que fazíamos nossas próprias revelações e ampliações em P&B. O quarto escuro era cheio de traquitanas e equipamentos, mas tinha como destaque o ampliador fotográfico, da marca Durst.  Alí vivíamos momentos fabulosos, vendo centenas de imagens surgindo lenta e gradativamente diante daqueles olhos adolescentes acostumados a enxergarem sob a luz âmbar.

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ÍNDIA. Como passei a desejá-la

                    DESDE então, a Índia passou a ocupar meu pensamento, magnetizando-o e dominando-o, tornando um destino até então insuportável em desejado,  o quase-amor num amor a explorar, da repulsa ao amor que extenua, uma obsessão.   Com freqüência, o desejo de cruzar a linha foi tomando forma e desencadeando uma tempestade cerebral. Ainda havia repulsa, mas a aflorava o desejo.  Eu estava sendo apresentado a um sentimento até então desconhecido: o amor-desamor.   Tendo a desinformação como ponto de partida e o preconceito como barreira a transpor, passei a compreender que uma viagem à Índia não poderia ser encarada com ingenuidade, definida com superficialidades e programada com facilidade, a compreender que até mesmo viajantes experientes encaram-na como um destino complexo, que exaure, e que por isso mesmo exige preparo intelectual e esforço emocional em doses equiparáveis aos de uma grande empreitada.  E que tal preparo deveria ser precedido de reflexões em busca de complacência e compreensão a fim de que a meta fosse alcançada: a aceitação.  

"Envelhecer é obrigatório, amadurecer, uma opção."

                    A partir de então comecei a olhar para a Índia com a vista desembaçada, a ver o que jamais vira, ainda que sempre a tivesse olhado de algum jeito.  Era como ver pela primeira vez,  como vêm as crianças, não como enxergam os adultos e suas vistas cansadas,  não vendo o que viram durante toda a vida.

  

                   FOI nesta fase que lembrei-me do Otto Lara Resende e sua crônica “Vista Cansada”, publicada no jornal Folha de São Paulo em 23 de fevereiro de 1992: ...de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio..  William Blake - o também poeta, inglês - disse que  Se as portas da percepção estiverem limpas, tudo aparecerá para o homem como de fato é: infinito.  Este foi o mote para que eu pensasse em programar uma viagem à Índia: a visão desembaçada. 

                CHEGARA a hora de conhecer a Índia, eu percebia estar pronto e maduro para encarar o país, vê-la tornar-se um destino desejado.  E foi do antigo conflito entre a Índia de sonho e a realidade de uma viagem ao país que resultou esta longa reflexão sobre nossa profunda preparação para esta viagem que resultarão os longos capítulos a serem publicados durante nossa estada na Índia.  A partir deste texto pretendo transmitir com fidelidade e imparcialidade -  todavia com personalidade e a minha visão apaixonada sobre a vida e o planeta -  as mais dolorosas experiências de nossa passagem pelo país e suas melhores recompensas.  

 

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 O SEGUNDO PASSO: como aprendi a olhar para a Índia

                    O Mundo - e tudo o que há nele - pode ser tão bonito ou tão feio quanto nossa visão nos permita enxergar. Nosso olhar é uma intervenção pessoal naquilo que enxergamos, nos revela o que foi captado pela iris, mas também o que já estava pré-concebido na memória.  O que vemos é resultado do que somos.   “Os olhos enxergam apenas o que a mente está preparada para compreender”, disse o filósofo Henri Bergson (**), algo também brilhantemente definido por Gary Zukav, em "O Coração da Alma: Consciência Emocional":  “Aquilo que acreditamos é baseado no que percebemos, o que percebemos depende do que buscamos, o que buscamos depende do que pensamos, o que pensamos depende do que percebemos, o que percebemos determina no que acreditamos, o que acreditamos determina o que fazemos para que se torne verdade, e o que fazemos para ser verdade é a nossa realidade.

 Nota: (**), Henri Bergson, filósofo e diplomata francês.

 

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 MINHA VISÃO PESSOAL desta viagem: a teoria do “esquecimento de tudo”  

                    VIAJAR é sempre algo pessoal, cada destino é visto pelo indivíduo de maneira diferente.  Nem todas as viagens são boas. E tudo o que é bom ou ruim resulta de valores pessoais e inerentes à educação, cultura, personalidade, experiências anteriores, capacidade de aceitação e grau de desejo de conhecer outros povos, culturas e tradições. Até mesmo a idade - esposa daquele senhor da razão - atua como um diferenciador. O que é bonito para uns pode ser feio para outros e na mesma proporção. Considerando que experiências em viagens são exclusivas, que não devem ser consideradas linearmente para todos os indivíduos e que experiências de outros servem apenas para orientar e despertar o interesse, o meu objetivo nesta série indiana sobre uma viagem ao Rajastão será exatamente desmistificar o país, transmitir ao leitor uma visão realista e apaixonada (como é própria do meu estilo), fazer justiça ao destino turístico e motivar o leitor a fazer sua própria viagem de conhecimento à Índia. 

                TODAVIA, como uma viagem a Índia requer abstensão de olhares embaçados, alheios, viciados, nos chama a procurarmos nossa própria percepção, é necessário que o leitor se esforce para ver o país com seus próprios olhos, esqueça-se de todas as superficialidades já publicadas, selecione na blogosfera as ótimas fontes de consulta, leia o máximo que puder sobre o país e alcance o ponto da ingenuidade, chegue à meta da ignorância, construindo sua própria consciência e obtendo suas próprias opiniões acerca da Índia.

   

                    AO mesmo tempo encantadora e assustadora, a Índia poderá surpreender seus visitantes logo ao primeiro olhar. E é muito provável isto ocorra, na mesma proporção em que maior for a intervenção pessoal do olhar. Quanto mais ingênuo, maior será o choque: “O amor pode ser aniquilado ao primeiro contato, o que é capaz de fazer com que as malas sejam refeitas e seja retomado o caminho de volta. A Índia arranca de nós mesmos, seja por repulsa ou por atração, pela mais forte das curiosidades, aquela que não sabe o que busca nem o que pode esperar e temer: uma surpresa a cada piscar de olhos, uma interessante provocação ao olhar e ao pensamento”  Jean-Claude Carrière,  em "Índia - Um Olhar Amoroso, de Jean-Claude Carrière - Ed. Ediouro", uma das leituras mais recomendáveis a quem prentende viajar ao país. Neste livro aprendemos que quanto mais deixarmos de ser nós, mais nos afastarmos de nossa lógica ocidental e de nossos métodos de avaliação, mais próximos estaremos da aceitação.  Tal condição - aquela a que chamo de "a teoria do esquecimento de tudo" , a aceitação plena -  nos deixará muito próximos de enxergarmos a Índia como ela é e obtermos dela todas as recompensas.

 

   Rajastanis - Galeria de Entrelec no Flickr

                    COM uma visão cruel mas romântica da duríssima e chocante realidade do país, a Índia será mostrada como um destino fundamental na vida de um viajante contumaz. Sem hostilidades e com imparcialidade, todavia sem deixar de alertar o leitor do quão severos poderão ser seus desgastes físicos e intelectuais, do quanto é fundamental preparar-se para uma viagem ao país,  do quanto é importante trilhar um caminho que o leve a ter a Índia revelada para além da sujeira e da miséria, a encontrar-se com as fortes vibrações e as profundas influências pessoais, obter as melhores e mais  marcantes experiências sensoriais e emocionais que uma viagem ao país poderá lhe proporcionar.  Com a serenidade que jamais consegui alcançar enquanto olhava para a Índia com desprezo,  tentarei mostrar - em fatos e fotos - as perdas e os danos, mas igualmente avivar as cores do encantamento, levar o leitor a compreender que se o desgaste é a barreira, o encantamento será a recompensa.

____Galeria de retlaw snellac - FLICKR _____________________________________________________________

 TERCEIRA ETAPA: aceitação, a chave de tudo

                    VIAJAR é fatal ao preconceito, segundo Mark Twain.  Viajar à Índia é mais, é constatar em carne viva a máxima do escritor.  Para nós ocidentais o melhor a fazermos é nos despirmos do preconceito,  não tentarmos compreender a Índia, mas aceitá-la.  Precisamos reconhecer que o país é muito mais complexo do que a soma de todas as suas contradições, que a aceitação é a chave e o único caminho para a assimilação, para uma permanência menos chocante, a condição para vivermos experiências cruéis, que todavia nos farão enxergar tam,bém doçura e beleza onde parece haver apenas miséria e feiura.  Sim, é possível encontrar tesouros e riquezas abaixo do fétido lodaçal, o pântano indiano que guarda no seu fundo o seu tesouro. Basta despir-nos da ambição de compreender a Índia, passando simplesmente a aceitá-la.

 

                    A dificuldade, todavia, começa na evidência de que a Índia é um país difícil de ser descrito, impossível de ser compreendido e remota a possibilidade de ser definido por ocidentais comuns.  Creio que nem mesmo os indianos conseguem tal feito, tal a grandiosidade  da complexidade, o que revela-se apenas superficialmente.  Não faz parte da lógica da sociedade ocidental chegar a um consenso acerca de um país habitado por 1 bilhão de indivíduos, dos quais 51 por cento são analfabetos, 500 milhões são miseráveis e indigentes, e que ao mesmo tempo tem a segunda maior quantidade de cientistas do mundo, o maior número de invenções na área de softwares sofisticados e uma das maiores taxas de crescimento econômico do planeta. 

 

                  SEMPRE será intrigante pensarmos sobre como pode funcionar um país que foi o berço de quatro grandes religiões, de uma dúzia de diferentes tradições da danças clássicas, de oitenta e cinco partidos políticos e de três mil maneiras diferentes de cozinhar a batata!  (*)India - From Midnight to Millennium”, de SHASHI THAROOR (Arcade Publishing)  O primeiro-ministro britânico Winston Churchill, por exemplo, magnificamente definiu tal realidade ao afirmar que a Índia é uma "expressão geográfica", não um país. Ele estava certo. “Nossa noção de país é pequena demais para explicarmos o inexplicável”, escreveu Xavier Bartaburu, na Revista Próxima Viagem.

                     É impossível não ficar atônito com a Índia. Ela causa vertigem, intoxica, sufoca, afoga. Do cheiro de urina dos mictórios a céu aberto às fezes de vacas, camelos, elefantes, galinhas, pavões, pombos, macacos e humanos; do comércio mais esquisito e improvável à prestação dos serviços mais esdrúxulos -  limpadores de cêra ouvido e vendedores de dentaduras, encabeçando a série de esquisitices na área -  tudo é feito nas calçadas imundas com esgotos correndo livres.  A sujeira parece ir além da pobreza e da falta de infra-estrutura, aparenta ser cultural, uma verdadeira instituição nacional. Parece impossível superar a repulsa, mesmo com olhares de compaixão.

 

                    NENHUMA preparação antecipada será suficiente. Tratando-se da Índia, o choque ocorrerá, inevitavelmente, não importa a intensidade da ação anterior à chegada, da erudição, da instrução e da cultura adquirida.  Nada parecerá superar o choque do encontro com a realidade, chegar a outro lado da fronteira: a visão de milhões de mendigos miseráveis que vagueiam pelas ruas atrás de nada, que olham para o nada e em direção a nada a esperarem por nada.  De cidades que se parecem com favelões, de prédios em escombros, de poluição visual, sonora e do ar, do lixo, essa é a visão que todo viajante tem da Índia, e nada parecerá salvar-se. Fora alguns fortes e palácios, nem mesmo os monumentos modernos conseguem disfarçar a pobreza.   Tudo parecerá à primeira vista apenas imensamente sujo e quebrado. Tal visão poderá desgastar e subtrair a alegria de um expectador em viagem, especialmente no âmbito da miséria humana, da pobreza que encobre qualquer beleza.  Toda essa realidade representa um triste espetáculo: a miséria e a aparente falta de perspectiva de 300 milhões de indigentes que viveem nas ruas, no mesmo lugar onde também morrem.  Parece ser tão triste e chocante a realidade da indigência dos indianos que uma dúvida sempre parece nos perseguir:   terá aquele povo algum dia um futuro feliz?

 

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 A POEIRA SOB OS PÉS de BRAHMA (*) 

                                      ESCREVER sobre a Índia por si já é um desafio bastante para poucos e uma pretensão além das medidas para muitos.  Preparar-me para uma viagem ao país fez surgir um atração natural por tentar vencer esta pretensão, desafio ao qual me permiti submeter.   Todavia, compreender a cultura indiana é algo que não posso enfrentar,  extremamente superior ao que classifiquei como "pretensioso desafio", algo muito além dos meus limites, como querer colocar o mundo numa caixa, um bilhão de indianos numa só foto, todos os palácios e monumentos do país num mesmo postal e todas as cores dos saris de seda numa mesma paleta.  A diversidade cultural na Índia tem uma dimensão que ultrapassa qualquer entendimento, compreensão que creio inatingível até mesmo aos indivíduos cujas mentes a natureza dotou de muito mais brilho.  E aquilo que não se compreende, não se consegue explicar.  É assim com o sistema de castas e com todas as crenças religiosas dos indianos. 

                    NESTA minha fase de descoberta da Índia jamais consegui compreender como algumas pessoas conseguiam amar tanto um país como tal dimensão de pobreza, o que me levou a crer que alguma coisa devia estar errada comigo mesmo, não com as pessoas.  Mesmo assim, como seria  possível tanta gente encantar-se com tamanha miséria, com tal nível de poluição e degradação, com as gigantescas cidades-favelas, com a horrorosa e deprimente deparação com a gente que defeca nas ruas e cozinha no mesmo chão onde o fazem?  Como gostar e adaptar-se a um trânsito tão absurdamente caótico, tão voraz e desregrado e com o buzinaço insano?  Não me parecia possível que apenas eu estivesse certo, que tudo o que li e todos os que ouvi amarem a Índia encontrarem-se errados. Ainda que eu tenha deeitos, a pretensão não é um deles.  Mas ainda assim, seria possível para mim aceitar algo ainda mais terrível do que toda a miséria indiana, o sistema de castas?

 

                    COMO é possível alguém aceitar e compreender o sistema de castas da Índia? Como  alguém poderia fechar os olhos a tal injustiça humana sob a alegação de tratar-se de uma questão cultural?  Como admitir que um povo tão linearmente pobre e religioso adote - justamente por orientação religiosa - um sistema tão injusto de classificação humana que divide formalmente a sociedade em quatro grupos?  Os brāhmaa (sacerdotes e letrados) que nasceram da cabeça de Brahma; os katrya (guerreiros) que nasceram dos braços de Brahma; os vaiśya (comerciantes) que nasceram das pernas de Brahma e os śūdra (servos, camponeses, artesãos e operários) que nasceram dos pés de Brahma, e à margem dessa estrutura social, os dalits (coveiros), que vieram da poeira abaixo dos pés de Brahma?  

                    QUE tipo de sociedade pode classificar como párias seus próprios irmãos soba a alegação de que são sem-casta, definindo-os - antes mesmo de nascerem (!) - como “intocáveis” por todas as demais classes, estabelecendo que a eles sejam destinadas as tarefas mais abjetas, razão porque são mantidos à margem para que não "contaminem” os tocáveis?  A tolerância dos indianos e de qualquer pessoa com tal realidade é muito mais do que notável, é incompreensível e inaceitável do meu ponto de vista.

 

                    AINDA que eu tenha tido a sorte de perceber que líderes religiosos e religiões sirvam apenas para corromperem mentes, e que isso acontece desde que o homem passou de quadrúpede a sapiens, tamanha estupidez decorrente de uma crença religiosa é inaceitável. É incompreensível a humilhação a que os indianos submetem seus semelhantes, como também é impossível que eu não a encare com profundo desprezo e classifique tal preconceito e discriminação com igual menosprezo que destino a tantas outras ignóbeis manifestações da humanidade, escravidão e preconceito racial encabeçando a lista.

 (*) O sistema de castas da Índia é uma divisão social importante na sociedade hindu, e não apenas na Índia, mas também no Nepal e em outros países e populações da mesma religião. Embora inerente ao hinduísmo, o sistema de castas também foi observado entre seguidores de outras religiões no subcontinente indiano, incluindo alguns grupos muçulmanos e cristãos. A Constituição Indiana, desde 1950, proibe a discriminação contra os dalits, rejeita a discriminação de acordo com os princípios democráticos e seculares que fundaram a nação. Todavia, ainda que barreiras de castas possam eventualmente ter deixado de existir nas grandes cidades, persistem na zona rural do país. Quem nasce numa casta não pode subir nem descer a outra, seja através do casamento, seja por capacidade pessoal. Define-se, portanto, uma casta, como grupo social hereditário, no qual tal condição passa de pai para filho.  Os "sem-casta", ou "Dalit", são párias -  também chamados de haridchans e haryans -  nome dado aos untouchables por Gandhi – ou seja, aqueles que executam as tarefas mais impuras. 

 (*) India's "Untouchables" Face Violence, Discrimination e Untouchable. Hillary Mayell e Tom O'Neill,  National Geographic News.  

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 É DIFÍCIL AMAR A ÍNDIA?

                    "A Índia não é um país charmoso, a começar pela paisagem, logo esquecida por causa da presença humana que tanto se impõe em todos os lugares. Quem não gosta dos homens não deve ir à Índia. A multidão é aqui a principal paisagem. Ela é o ator de todos as coisas. Sem dúvida, é por isso que, na literatura indiana de todos os tempos, os personagens são frequentemente atraídos para o exílio e a solidão, a renúncia, a partida. Que o viajante estrangeiro não se engane nessa via de isolamento seria meu primeiro conselho. Que aceite a multidão, que se misture com ela, que nela se perca. Primeira condição do amor: o contato." Jean-Claude Carrière, em Índia - Um Olhar Amoroso - Ed. Ediouro

                       É mesmo surpreendente o fato de que um país com uma das mais antigas civilizações e com tantos e tão profundos contrastes, cuja diversidade de línguas e hábitos seja tão extensa, possa ter alguma unidade.  O escritor Jean-Claude Carriere diz em seu livroÍndia” algo que definitivamente nos dá a exata dimensão desta profunda complexibilidade, ao mesmo tempo que nos deixa ainda mais surpresos:  Um conjunto como este não pode funcionar. Ele é incoerente. Engloba tantos níveis sociais, tantas complexidades mentais, tantas regras públicas e secretas, tantas realidades imaginárias, tanto passado, tanto presente, que uma coesão geral dependeria de um milagre cósmico. Contudo, este é o caso. A Índia existe e funciona. Sob certos aspectos de vida, funciona até melhor que Estados que se dizem histórica e linguisticamente mais sólidos.

                        Excessos, jamais encontraremos um país com tantos. São tamanhos que nos levam a crer que tentativas de adjetivarmos a Índia serão sempre infrutíferas e ingênuas. Um visitante terá seus sentidos desgastados aos extremos e mesmo o mais descolado, frio e duro viajante, não os encontrará bastantes para definir a sensação dos murros diários que apanha nos sentidos. Não é um destino onde se possam encontrar paz e tédio, nem mesmo se a escolha for internar-se num curso de yoga ou de meditação.  Durante a estada no país ocorre uma sequência tão extraordinária de imagens e acontecimentos, tão intensamente fortes e chocantes, que o cérebro - tomado à força, violentado ao ponto das idéias embaralharem-se - torna os sentidos confusos e desconexos, por momentos tornando a permanência tão insana ou desconexa quanto os sonhos, ou então como se assistíssemos a um filme impossível, no qual somos espectadores e atores, tudo numa tal desconexão com a realidade, que parece sonharmos acordados num estado psicodélico de orgia sensoria.  A não ser nos de Bollywood, a Índia é um filme impossível e nossa primeira impressão do país será regada a adjetivos desfavoráveis. Mas não sejamos tão petulantes com a Índia: sob este terreno pantanoso há pedras preciosas.  

                      Tudo provocará estranheza ao turista, até mesmo o que estiver relacionado ao hinduísmo e a outras religiões de tão estranhas que são suas divindades: figuras humanas com cabeça de elefante ou de macaco, deusas com seis braços, animais desprezíveis para nós  mas divinos para eles, para ficarmos apenas no terreno superficial das excentricidades religiosas.  Todavia, para aceitarmos a Índia, devemos compreender elementarmente alguns dos símbolos religiosos do hinduismo -  tais como o Om (*), a Swastika e o Lotus. Eles revelam fatos importantes sobre a cultura do país e seu significado intrínseco - uma obrigação moral de todo indiano, dedicar-se ao conhecimento da simbologia cultural da Índia – nos conduz a aceitar que quase tudo no país está relacionado à espiritualidade e à religião, cujo pricípio fundamental é compreender que o sentido da vida é sair da escuridão da ignorância e chegar à luz do conhecimento através dela. A partir desse fundamento é possível compreendermos alguns contrastes: que a religiosidade exacerbada e o o sub-desenvolvimento fazem parte natural da vida dos indianos.

 (*) o Om é o mantra mais importante do hinduísmo e outras religiões. Diz-se que ele contém o conhecimento dos Vedas e é considerado o corpo sonoro do Absoluto, Shabda Brahman. O Om é o som do infinito e a semente que “fecunda” os outros mantras. O som é formado pelo ditongo das vogais a e u, e a nasalização, representada pela letra “m”. Por isso é que, às vezes, aparece grafado Aum. Estas três letras correspondem, segundo a Maitrí Upanishad, aos três estados de consciência: vigília, sono e sonho. “Este Átman é o mantra eterno Om, os seus três sons, a, u e m, são os três primeiros estados de consciência, e estes três estados são os três sons”. “O pranava — o mantra Om — é a jóia principal entre os outros mantras; o pranava é a ponte para atingir os outros mantras; todos os mantras recebem seu poder do pranava; a natureza do pranava é o Shabda Brahman (o Absoluto). Escutar o mantra Om é como escutar o próprio Brahman, o Ser. Pronunciar o mantra Om é como transportar-se à residência do Brahman. A visão do mantra Om é como a visão da própria forma. A contemplação do mantra Om é como atingir a forma de Brahman, Mantra Yoga Samhitá. Na Índia, o mantra Om está em todas partes. Hindus de todas as etnias, castas e idades conhecem perfeitamente o seu significado. Ele ecoa desde a noite das idades em todos os templos e comunidades ao longo do subcontinente.  Essa sílaba única, Om, vem dos Vedas. Como uma palavra sânscrita, significa avati raksati – aquilo que lhe protege, lhe abençoa. É um mantra e é um nome do Senhor. O nome do Senhor lhe protege através da repetição do próprio nome. Portanto, é reconhecimento em forma de oração. Sendo um mantra, ele é repetido, e, portanto, torna-se uma prece. Repetido “Om”, você invoca o Senhor naquela forma específica. Então, dessa maneira, “Om” o protege. 

 (**) O símbolo sagrado Swastika – cuja palavra é de origem sânscrita, composta de “su= bom; agradável” e “vasa ou vasu= habitação, moradia” - significa “boa habitação”.  Contudo, o termo “swasti” significa “pacífico”, “calmo”, “reverências”, “respeitos”, e também “asti” é o verbo ser, podendo significar “ser bom”.  O exército indiano usava a forma da cruz swastika movendo-se no sentido horário, mantendo o centro de concentração para defesa.  A forma da cruz Swastica era empregada na construção de fortes de defesa, tendo, portanto, um sentido de proteção e defesa.  A sua relação com o semideus do Sol, Suryadeva, foi direta, uma vez que o sol é sinal de boa fortuna, saúde, sorte, felicidade, bem como proteção contra a escuridão, que no hinduismo tem o sentido duplo de falta de luz e de conhecimento.  O símbolo do Swastika ocupa o segundo lugar em utilização por entre os hindus.  Em todos os lugares podemos encontrá-lo, como marca de proteção. Se aconselha que em todas as janelas tenha um Swastika, para a proteção do lar. Junto com a deusa da fortuna, Lakshmi (com as marcas das suas solas dos pés), constitui um poderoso símbolo de fé por entre os Hindus. A suástica ou cruz gamada, como também é conhecida, é um dos símbolos místicos mais difundidos e antigos do mundo. É encontrado do extremo Oriente à América Central, passando pela Mongólia, pela Índia e pelo norte da Europa. Foi conhecido dos celtas, dos etruscos, da Grécia antiga. Alguns quiserem remontá-lo aos atlantes, o que é uma maneira de indicar sua remota antiguidade. Qualquer que seja sua complexidade simbólica, a suástica, por seu próprio grafismo, indica manifestamente um movimento de rotação em torno do centro, imóvel, que pode ser o ego ou o pólo. É, portanto, símbolo de ação, de manifestação, de ciclo e de perpétua regeneração.

(***) Lótus, a flor santa para os hindus, é o símbolo da alma individual, a flor que representa o ser, que vive em águas turvas mas apesar disso floresce de modo impuluto. Na mitologia, o lótus é o símbolo da criação, uma vez que Brahma, o criador do universo, surgiu de um lótus que brotou do umbigo de Vishnu (o controlador Supremo). O lótus é também o símbolo oficial da Índia. Há uma posição, ou Asana, no Yoga, que tem o nome de Lótus, aquela que se mantém firme como uma flor de lótus, florescendo sem poluir-se e sem se molhar na água.

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 POR ONDE COMEÇAR UMA VIAGEM À ÍNDIA?

                       A Índia não é um país bonito, ao contrário, tem um território desértico e pobre em belezas naturais, quase todo de um monocromatismo ocre e verde, desprovido de montanhas imponentes, com excessão do extremo norte do país, nas proximidades do Himalaia.  É um território mal cuidado, ocupado sem planejamento, em cuja monótona paisagem o que se impõe é a presença humana em escalas jamais imaginadas por um ocidental. Isso provoca estranheza e certo desconforto. De acordo com Jean-Claude Carrière, “quem não gosta de gente não deve ir à Índia”.  Tal afirmação provocou-me forte impacto, e em conseqüência disso, meu preparo intelectual e emocional antes da viagem, diante desta realidade (assim como meu esforço durante ela)  foi algo a conquistar, quase um permanente desafio. Aceitar tal condição numa viagem à Índia é fundamental para quem quer conhecer o país e seu povo.  Ir à Índia sem misturar-se com sua gente, observá-lo apenas do ponto de vista das janelas dos ônibus e dos carros, equivale a fechar os olhos ao que a Índia tem de melhor:  precisamente sua gente. Para além de seus monumentos, nada é mais imponente e impactante na Índia do que a união esses dois elementos. Precisamos saber, antes de nos aventurarmos numa viagem ao país, que gente é onipresente, que destaca-se sobre todas as outras coisas, e que não se pode afirmar ter conhecido satisfatoriamente o país, tendo-se optado pelo isolamento do povo e das ruas.

                        Não há recomendação mais importante a quem pretende viajar à Índia do que ler tudo o que puder ou estiver disponível, desde a literatura citada aqui no blog ao o mais que desejar.  Definir por onde começar uma primeira viagem à Índia talvez seja a única tarefa que não represente dificuldade: o estado do Rajastão reúne algumas das riquezas monumentais mais expressivas do país e contempla a capital, Nova Delhi, além das cidades de Agra e de Jaipur. O charme já começa na tradução literal do nome ´Rajastão´: “terra de reis e príncipes”, o que é expresso francamente na abundância de palácios. Convertidos em hotéis, alguns deles possibilitam que nós, simples plebeus, conheçamos um pouco da atmosfera de luxo, riqueza e exotismo dos marajás daqueles tempos. O Rambagh Palace e o Jai Mahal Palace em Jaipur, o Umaid Bhawan Palace em Jodhpur, e o Lake Palace, em Udaipur, são o que se costuma vender como “Índia de Luxo” ou “Índia Chic”. O Rajastão é, portanto, uma das regiões mais turísticas, coloridas e bonitas da Índia, também a mais “mil e uma noites” do país, expressa nos desertos, camelos, cidades muradas e, sobretudo, na sua gente, onipresente onde quer que se pense ir, mesmo na Índia dos super hotéis luxuosos e palacianos. Também não há dúvidas de que às cidades de Udaipur, Ranakpur, Jodhpur, Jaipur, Pokaran, Jaisalmer, Manwar, Fatehpur Sikri, Agra e Delhi - um roteiro adorável -, devêssemos incluir Varanasi, colocarmos um pouco mais de “Índia” essencial no “chic”,  ou um pouco menos de luxo com mais uma pitada de Índia.  Uma heresia não incluir Varanasi no programa. Todavia, após um ano de estudos, nos decidimos por um roteiro com menos deslocamentos e maior permanência nas cidades escolhidas, a fim de que pudéssemos experimentar melhor a convivência nas ruas, misturar-nos ao povo e mergulharmos mais profudamente no pântano. Khajuraho e Varanasi, portanto, ficarão para a próxima. Próxima?!

                        Do Taj Mahal aos fortes e palácios do Rajastão, dos templos eróticos de Khajuraho às cavernas de Ellora, das vacas sagradas aos caos das ruas e estradas, nos excêntricos cartazes dos filmes de Bollywood - a Índia turística - reúne tudo o que é necessário para uma magnífica introdução ao país. Berço do hinduismo, do budismo, jainismo, zoroastrismo, sikhismo e de tantas outras religiões e seitas em números que batem os recordes de divindades, por si já demonstram o caráter complexo da cultura e do pensamento indianos. A essência do caráter indiano está no credo. Religião é uma questão central na cultura indiana e sua prática estará virtualmente sempre presente em variadíssimos aspectos culturais e da vida cotidiana de seu povo e  este é um dos motivos fundamentais porque não se consegue explicar a Índia. Poucos países poderiam produzir gente como Mahatma Gandhi, exemplo absoluto de dignidade humana, de solidariedade e de persistência no alcance de um ideal, de lutas sem violência, de abnegação.

                        Quem aceitar descobrir a Índia em suas entranhas, sairá recompensado por uma experiência profundamente marcante, que jamais encontrará paralelo.  Um turista ocidental iniciante deverá comprender que toda aquela espiritualidade vale apenas entre eles e para eles.  Nós valemos apenas o que podemos render de dinheiro. Gente é onipresente na Índia, e nas áreas turísticas, todos parecem querer levar alguma vantagem, até mesmo por nossa simples olhadela para aquele curioso turbante na cabeça de um indiano que está ali pra isso mesmo.   Nós, brasileiros, sabemos, vimos, vivemos e lemos acerca de pobreza, de cambistas, espertos, pedintes e mendigos. Escrever sobre o tema é complexo, abordá-lo sem superficialidades e com respeito - mesmo que eles tenham nos feito passar por alguns tormentos durante nossa estada na Índia - requer serenidade.  Em nenhum outro lugar talvez seja possível termos tão clara a sensação de falta de privacidade e invasão de nosso espaço.   A todo momento encontram-se pessoas querendo “simpaticamente” apertar as dos turistas mãos e tirar uma foto com eles – o lado que pode ser “bom”, ou passarem a mão e até acariciarem sua companheira, o lado “mau”.   Pode tanto ser mais uma das inúmeras maneiras de ganharem algum trocado quanto uma legítima manifestação de curiosidade.  Não se sente inseguro, mas invadido, incomodado,  num estado de alerta permanente, sempre a níveis quase extenuantes, o que pode transformar a viagem numa experiência exaustiva, para o intelecto e para o humor.

                       Tudo isso em proporções tanto maiores quanto menor for o preparo e a consciência do que se vai encontrar e viver.  Ainda que carregados de toda a gentileza para com os reais motivos do permanente assédio, dos incômodos que eles provocam, com a espantosa pobreza,  deve ser impossível aos nossos corações e mente deixarem de doer.   Todos os que vão à Índia afirmam chegarem ao fim do dia exaustos e consternados.

                        Talvez a maneira mais óbvia de compreendermos seu comportamento seja nos colocando em seus lugares, imaginarmos nós mesmos vivendo naquelas circunstâncias.  Por isso, polidamente, compreensivamente, todos os que vão à Índia abordam o tema recomendando que se recusem quaisquer ofertas que nos façam, e que compreendamos que mesmo tendo vontade de conversar, qualquer diálogo invariavelmente é acompanhado da tentativa de tirar algum proveito de nós, de nos vender algo, de prestar algum serviço indesejado ou inútil e de nos levar a alguma loja que comissionará ao solícito "guia".  Dizem que as abordagens jamais serão no sentido de roubá-lo, mas de ganhar algum dinheiro de você.  Dar esmolas ou não é uma questão tão polêmica e complexa quanto pessoal. Se não quiser dar esmolas, recomenda-se juntar um bom dinheiro ao final da viagem e doá-lo a alguma instituição de caridade e assistência através da recepção de seu hotel.  Se quiser dar algo a um mendigo, pense em dar-lhe comida, levan do consigo um estoque de bananas, maçãs, barrinhas de cereais, biscoitos e coisas do gênero que se podem colocar na mochila e distribuier ao longo do dia. Dizem que funciona, além de ser politicamente correto.  Por certo fará bem a quem tem fome e a você que não tem.  Se, todavia, decidir por dar dinheiro a um pedinte, esteja preparado para que dezenas de outros o cerquem tentando conseguir o mesmo. 

                         Depois de ler toda esta preleção, o leitor haverá de perguntar: “Então, por que ir à Índia?”.  Eu respondo: de curiosidade a auto-conhecimento, de yoga a meditação, de turismo a estudo antropológico, há uma infinidade de motivos para se ir à Índia.    

   O Rajastão é o maior, um dos mais pobres e possivelmente o mais conservador Estado da Índia.  A capital é Jaipur e as línguas oficiais são o hindi e o rajastani.   Antes da independência do país o Rajastão chamava-se Rajputana.Boa parte do Estado é desértica.  Chama-se Deserto de Thar.  É a terra indiana dos fortes, dos templos e do palácios de mármores, de grandioso capricho, de charme extravagante, de encantadoras arte e cultura populares, de coloridos excitantes, do orgulho e da honra de um povo, dos homens de turbantes volumosos e das mulheres de ornamentos e vestimentas multi-coloridas, dos lagos e desertos, dos camelos e elefantes,  dos suntuosos e modernos hotéis dentro de outrora nobres, majestosos palácios, terra de lendas que nunca morrem, de mistério e romances inesquecíveis e de um passado que se reflete num inacreditável presente.

 

                          

                    É certo que quanto menos luxuosa for uma viagem à Índia, maiores serão as possibilidades de que o viajante perceba e compreenda a essência do país, ou pelo menos que mais rapiamente as assimile.    Dizem que para viver uma experiência verdadeiramente antropológica na Índia é necessário nos distanciar do luxo e nos aproximarmos da pobreza.  Nada parece fazer mais sentido. Todavia, a escolha do padrão de uma viagem - econômica ou luxuoso - nesta caso depende muito mais de intenção do que de possibilidade.  Trata-se de uma questão mais conceitual do que econômica, é mais desejo do que capacidade.  Ainda assim, mesmo que se opte pela categoria luxo, na Índia sempre é possível viver experiências antropológicas marcantes.   Nosso objetivo é viajar em condições que possibilitem uma experiência segura e satisfatória, mas que nos proporcione confrto e relaxamento ao fim de cada jornada estressante do dia.   O Rajastão é Estado mais visitado da Índia, referência mundial na hospitalidade e na hotelaria de luxo, mas sempre é possível encontrar roteiros que comportem múltiplas combinações de padrões sócio-econômico-culturais. 

O pacote para a Índia 

                        MESMO numa viagem desta categoria é possível explorar ambos os estilos:  o luxuoso e o antropológico.  Aproveitando os tempos livres para ir às ruas e integrar-se num nível que só depende dos próprios desejos, não de capacidade, que é fácil vivenciar a Índia como ela é de fato.   Mas as distâncias, a duração e os diferentes meios de transporte tomarão boa parte do tempo de programação de sua viagem e de sua jornada pelo país.  

                         UM país com dimensões continentais tanto na área quanto nos contrastes já teria o bastante a oferecer turísticamente, independentemente de sua maior ou menor riqueza.  Assim, não há como conhecer todo o país em apenas uma viagem e quem vai pela primeira vez quase sempre começa pelo Triângulo Dourado - Delhi, Agra e Jaipur – com uma escapadinha a Fatehpur Sikri.  

                        FOMOS  muito além destes destinos, adquirindo um pacote denominado “Rajastão Tradicional ”, descendo ao sul do pais Kerala e Goa, uma outra realidade em zona de praias com coqueiros e cultivo de chá.

                             Na verdade uma outra India, das muitas que a cada visita a um país tão grande que de heterogeneo tem tudo. Tenho de voltar um dia destes.  até à próxima

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Comentário de Antonio Jose Dias silva Barata em 19 Outubro 2011 às 14:46

Ainda á vivo sim com 91 anos e ainda toca com a sua flha e outros amigos. Sons bonitos os da sitara.

http://www.ravishankar.org/

Comentário de Antonio em 19 Outubro 2011 às 13:51

Ravi Shankar, muito bom:)

Sabia que ele começou a sua carreira  como bailarino e aos 18 anos começou a tocar sitar?

Já o vi ao vivo nos anos 90 em Lisboa e já devia ter mais de 70 anos. Ele ainda é vivo? 

Comentário de Antonio Jose Dias silva Barata em 19 Outubro 2011 às 11:39

Bom dia Joana Costa,

 

Não é a única não senhor.

Se tiver o cuidado de ler atentamente o artigo, verificara logo que no inicio digo que este artigo é do Armando Interata, um apaixonado pelas viagens , artigo que pela forma como foi escrita achei interessante, pois conheço bem a India e o que ela nos trás à distância e quando se visita. Aproveitei algumas fotos mas por isso, tal como no artigo inicial  tb indico o seu  autor e as restantes são minhas. No meu caso o trazer artigos ao Myguide não é feito para ganhar concursos mas sim para partilhar momentos, viagens ou paixões.

Sempre que me for possivel irei trazer esses registos de experiências vividas por mim ou de outras pessoas e que acho por bem facilitar o seu conhecimento.

A si proponho que não começe por julgar, mas sim tente perceber pois nada acontece por acaso.

um bom dia para si.

Comentário de Joana Schmidt Costa em 19 Outubro 2011 às 11:12

Serei eu a única a reparar que este artigo é copiado quase na integra deste:

http://interata.squarespace.com/jornal-de-viagem/2010/6/24/nossa-vi...

Nem as fotos escaparam...

Não estou a concorrer a nada, mas parece-me vergonhoso e injusto para os outros concorrentes.

Comentário de Helena Guerreiro em 12 Outubro 2011 às 10:34

Absolutamente fantástico!!

Esta deve ser realmente a viagem de uma vida!!

Parabéns, António!

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