CULTURA: A Baiuca e o seu apaixonante Fado vadio

Neste pequeno canto de Alfama, na Rua de São Miguel, por trás de uma porta feita ainda de madeira, numa taberna que toda ela conserva as verdadeiras origens, o verdadeiro carácter, a verdadeira magia de Lisboa, apaixonei-me pelo Fado.

 

                                                                Fonte: http://goeurope.about.com


A Baiuca

 


Entrámos – eu e uns amigos – a casa já estava cheia, mas arranjaram-nos logo lugar junto a umas alemãs, ali a companhia à mesa é sempre feita por desconhecidos, partilha-se a mesa, e partilha-se a experiência. À meia-luz serve-se o jantar, um jarro de vinho acompanha um bife ou a especialidade da casa - um delicioso ensopado de tamboril.

 


Entre uma garfada e outra a luz torna-se ainda mais baixa e pede-se silêncio… vai-se cantar o fado. Quem apresenta é a mesma senhora que serve às mesas. Os fadistas que já aguardavam na rua, entram com um estilo próprio, cada um com a sua marca pessoal, cada um canta e encanta de forma diferente.

 

 


Zé António entrou n’A Baiuca e chamou logo a atenção. Chamou e prendeu. Três fados depois ainda todos permaneciam calados a ouvir esta voz que não parecia sair deste homem; não fosse o sentimento e a expressividade com que ele cantava e podia haver dúvidas que daquele corpo saia aquela voz. Da porta, Jorge Almeida (também um dos fadistas d’A Baiuca) atirava: “Se tivesses cabeça, ao pé de ti o Alfredo Marceneiro era uma cassete pirata”. Seguiu-se mais um momento memorável, a cozinheira e Zé António inundam a sala da taberna com a sintonia das suas vozes, a afinidade das suas emoções, com os “seus” Fados, com esta música cantada pelo povo e feita para o povo.

 



António Amorim na viola e David Ribeiro na guitarra portuguesa acompanharam todos os fadistas que passaram pel’A Baiuca. A forma como tocam, emociona os que ali estão. Em cada agradecimento aos “tocadores” uma salva de palmas prolonga-se no ar.

 


Aqui “o fadista nunca é convidado…convida-se a si próprio” * sente-se a natureza saudosista, sente-se o verdadeiro espírito do Fado, sente-se Lisboa e os seus bairros característicos, a sua música, as suas sensações, os seus cheiros. Aqui sente-se o verdadeiro Fado vadio, sente-se a tristeza, sente-se a angústia, sente-se a saudade, mas também o prazer e a felicidade. Há sentimentos no ar, emoção nos olhares, recordações nas paredes.

 

 


Quando fecharam as portas e a sala ficou praticamente vazia, seguiu-se a conversa…

 


Zé António pede para sentar na nossa mesa e pergunta se gostamos. Como é possível não gostar?! É uma figura singular, simpática, a cada frase sua, soa um fado. Mais de 1600 fados diz ele saber. E sabe. Já de madrugada, leva-nos à Tasca do Chico - também em Alfama - onde o fado prolonga-se pela noite dentro. No caminho cruzamo-nos com uns rapazes que começam a cantarolar fados para incitar Zé António, este completa-os instantaneamente. Em Alfama todos conhecem (e admiram) Zé António.

 


Jorge Almeida põe o seu cartão pessoal na nossa mesa, chama-me à atenção o canto dobrado - sinal de cordialidade e de etiqueta – nos dias de hoje já não muito usual. É "events manager", organiza festas e espectáculos com fadistas seus conhecidos. Depois da troca de algumas palavras, oferece-me uma cópia de uma pintura feita com café do fadista Fernando Maurício e entrega-me um papel onde algumas palavras explicam o que significa para ele o Fado (“Fado… em Movimento”). Comove-me o seu gesto.

 

                                             Fonte: http://photo.net


Henrique Gascon é o dono d’A Baiuca. Explica-nos como começou este projecto, mostra o seu orgulho em manter a traça original do edifício, elogia os fadistas que por ali passam e agradece a nossa visita. Mais uma vez sinto-me sortuda, Henrique Gascon oferece-me um exemplar do livro “Tudo isto é Fado”.


Saí d’A Baiuca com a promessa de voltar. E vou cumprir.


Contactos:


A Baiuca (Alfama)
Rua de S. Miguel, 20
1100-544 Lisboa (perto do Museu do Fado)
Telefone - 21 886 72 84 / Telemóvel - 93 945 70 98 / Email: abaiúca@sapo.pt

 

Jorge Almeida - Events Manager

Telemóvel - 96 922 00 70

 

* Excerto do texto "Fado...em Movimento"

 

 

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Comentário de Luis Marques Cotonete em 5 Abril 2011 às 12:28
Estou espantado, julgava que lugares como este já tinham desaparecido. Tenho de conhecer a Baiuca

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