Em vários espaços como as Caves do Ex Cinema Condes e a do Palácio Foz- Restaurante Abadia, reuniram-se os Makavenkos.
Os makavenkos, amados e odiados, reuniam-se numa cave para transformar as noites numa farra, ao mesmo tempo que contribuíam com prazer para a centenária revolução republicana.
Entravam bem trajados pela Rua dos Condes, como se fossem para o teatro. Empresários, políticos, artistas, médicos, jornalistas, aristocratas e plebeus, monárquicos e republicanos, maçons, ultraconservadores e revolucionários passavam as bilheteiras sem parar, desciam dois lanços de escada e tocavam à porta da sociedade 'secreta' dos makavenkos... um clube privado lisboeta para polígamos "de todas as qualidades, excepto os vadios", que gostavam de petiscar na mesa e na cama. Ali, cozinhava quem sabia e desfrutava quem podia, sempre em agradável companhia feminina, também aceite sem descriminação de classe, da nobreza à rua, conforme as paixões dos convivas.
À entrada, vestiam o modo de ser makavenkal: o prazer da boa mesa, da "alegre rapioqueira", e a compensação dos 'pecados' com actos de benemerência. Mas, ao fim de 26 anos, quebraram uma das regras. Ou nunca cumpriram essa de não falar de política e religião. No ano de 1910, na Casa dos Makavenkos, onde a prioridade era dar "largas à alegria e elasticidade à tripa", preparou-se a revolução. Na cave do Teatro Condes, edifício que já foi cinema e é agora o Hard Rock Cafe, os republicanos e maçons Francisco de Almeida Grandella, 57 anos, José António Simões Raposo, 35, José Cordeiro Júnior, 40, José de Castro, 42, Machado dos Santos, 35, e Miguel Bombarda, 59, conspiraram contra a monarquia, contra o rei D. Manuel II, de 21 anos e no trono havia 29 meses.
O clube fora fundado, em 1884, por Francisco Grandella e mais 12 amigos que gostavam de patuscadas, reinava ainda D. Luís. A divisa escolhida foi a da britânica Ordem da Jarreteira, a comenda da liga azul, honni soit qui mal y pense, talvez por ter sido inspirada por uma amante de rei que deixou cair uma liga quando com ele dançava num baile da corte. Pelos primeiros estatutos, os sócios não ultrapassavam o número 13 (regra rapidamente alterada para integrar mais 13 e mais 13... ao longo dos anos, o clube teve mais de 100 sócios), mas podiam levar convidados. Todos eram iguais perante a sopa, o copo e as makavenkas e nenhum podia namoriscar com a mesma por mais de 15 dias. Findo este período ela seria declarada "praça aberta" e ele, se insistisse, levava o título de "lamechas" e a intimação para pôr fim ao relacionamento em 24 horas.
Onde primeiro se assentaram os comensais foi no Palacete do Conde de Antas, no jardim, também casa de várias espécies de animais, por isso denominado Parque Zoológico. Todavia, os makavenkos nunca deixaram de saltitar por outras casas e restaurantes, até o empresário Grandella comprar o terreno do velho Teatro Condes e mandar reconstruí-lo em 1888, reservando a cave para prazeres levemente ligados à dramaturgia, não obstante vulgarmente se enchia de autores, actores e actrizes... E ali se implantou a sede makavenkal para jantares, festas, banquetes e, mesmo, sessões de espiritismo, por onde passou uma boa parte da alta sociedade e da intelectualidade masculina.
Mas, não fosse Grandella um homem com uma visão extraordinária do futuro e os restantes sócios aventureiros entusiastas, o clube extravasou a cave e internacionalizou-se, quatro anos passados da revolução republicana. Há muito que os makavenkos desejavam fundar, nas possessões portuguesas em África, uma cidade que começaria "como todas as outras, por uma casa, depois por outra e logo a seguir por muitas". Um dia tornou-se sócio Alfredo Ribeiro da Fonseca, que se preparava para uma missão africana. Erguer uma Makavenkopólis revelou-se a outra missão do "novo Culombo", como cognominaram o militar, por ser "um nome simbólico e sugestivo, composto por duas coisas que a natureza das mesmas pôs em seguida uma à outra". O capitão partiu, levando uma credencial que o habilitava a içar, em nome da sociedade, "a bandeira bicolor (verde e encarnada, está bem visto) no primeiro ponto propício à fundação de uma colónia Makavenkal". Souberam mais tarde que o nome da sociedade tinha sido dado a uma escola e que "mais de cem rapazes, que mais pareciam makavenkikos" a frequentavam no distrito da Lunda, no Kuela, "capitania-mor dos bandas e bangalas".
Na casa da metrópole, os trabalhos revolucionários - assim se lia nas convocatórias escritas pelo punho do advogado e grão-mestre adjunto da Maçonaria José de Castro - nunca se devem ter realizado numa sexta-feira, dia reservado às makavenkadas, nem tão-pouco às terças, em que as noites talvez ainda estivessem ocupadas pela Academia Real dos Camelos, uma subdivisão do clube presidida pelo ex-padre e republicano João Bonança, transformando-se uma das salas a preceito, com panos de Arraz a tapar as paredes e, nos lambrins, desenhos alusivos a caravanas no deserto, para que os discursos pós-refeição estivessem bem enquadrados.
Também não deve ter contado com a companhia do makavenko Santos Joya, que exercia "extraordinário poder magnético sobre as mulheres, convidando-as às dezenas para os jantares" e, por essa razão, já merecera "as honras dum festim à romana e respectiva coroa de louros, para se lhe exaltar as suas qualidades de macho". Quando ele não aparecia faltavam "damas e melhores exemplares... da raça luso-espanhola" que "abrilhantassem a encantadora festa porque as flores animadas são sempre bem cabidas e apreciadas".
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Será sempre um prazer fazê-lo e proponho que usem a abusem dos passeios em lisboa , todos os domingos de tarde e assim poderão in locco ouvir mais histórias da nosa cidade capital . Lisboa. site Lisbonwalker e iip. Velem a pena.
http://www.lisbonwalker.com/faqp.html e http://www.iipatrimonio.org/site/index.php/formacao/passeios-com-o-...
Bom...Antoninho, esmeraste-te a escrever, no entanto podes-me convidar para a próxima sessão dos Makiavenkos, iria gostar com certeza. Há certas afinidades com os meus gostas. Até breve
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