Ontem, pelas 21h00, começou o primeiro de quatro concertos de Camané no Teatro S.Luiz.
Não me lembro de alguma vez ter ido ao S.Luiz e, como os que já foram certamente perceberão, o fascínio é enorme. Numa sala cheia de uma faixa etária na qual claramente não me insiro, com apenas dezanove anos, sentei-me na terceira fila.
Quando as luzes acenderam, só a uma vista mais atenta reparei no grande fadista, sentado a uma secretária antiga (ou, pelo menos, a imitar), no canto esquerdo do palco, inserida no restante cenário a fazer lembrar os anos 50. Nas luzes da ribalta estavam os músicos: na guitarra portuguesa o fantástico José Manuel Neto, na guitarra acústica Carlos Manuel Proença e no contrabaixo Paulo Paz.
O cenário sugeria uma casa portuguesa, "com certeza!", de há muito (pelo menos na minha consciência espácio-temporal), que deu espaço a um concerto sobre o amor que deixou um público deliciado completamente rendido. Do novo álbum Do Amor e dos Dias ouviu-se uma mão cheia de músicas, entre elas a bem humorada Guerra das Rosas. Também Súplica, Último Recado, Porta Aberta, Lúbrica, Depois que um Beijo me Deste, Ausência (que tem uma presença do contrabaixo simplesmente fantástica), O Amor é o Amor, Tanto Me Faz, Piso Térreo, Porque Me Olhas Assim, E Por Vezes e A Meu Favor.
Ao cantar lindíssimos poemas de Cesário Verde, David Mourão-Ferreira, José Mário Branco e Fausto Bordalo Dias, o artista ia tecendo pequenos comentários aos versos, com uma timidez característica, para depois rapidamente se desinibir com uma voz que encheu as medidas a todos os presentes. Mas, para os mais nostálgicos, houve pequenos presentes como Sei de Um Rio, Ela Tinha Uma Amiga ou Mais Um Fado No Fado.

O Camané dará mais três concertos nesta grande sala de espectáculos, a não perder!

O fado é uma emoção contida. E eu sou uma pessoa contida. O mais importante é a canção, pôr-me dentro das palavras, tentar esquecer-me de mim e entregar essas palavras e essa música.
Camané, in Ípsilon