A uns 200 e tal km a norte do Porto fica Santiago.
Tinha um amigo no secundário que dizia que um dia quando o mundo acabar, Santiago fica de pé.
Ele trazia-me duas folhinhas A4 com linhas, com os títulos de filmes que tinha para me emprestar ao fim-de-semana.
Ivan o Terrível ou Apocalypse Now. Ou Woody Allen.
Tirei fotocópia e ia pedindo 3 por fim-de-semana, quase sempre temáticos.
Santiago de facto convence muito bem que há-de ficar de pé.
A fachada barroca parece que sempre existiu, que já existia quando Tiago viu a vieira a boiar no cabo e decidiu ficar no fim da terra.
A torre da direita ligeiramente inclinada; parece que vão resistir para sempre, na praça do Obradoiro, kilómetro zero de tantas peregrinações.
Entretanto Civita di Bagnoregio vai se desfazendo em calancos, as costelas das montanhas cada vez à mostra, a cada chuva que passa.
As ruas de Santiago seguem vivas, juntando sabores de pulpo à Feira e pimentitos. O humor galego persiste, disfarçado de jeito português mas é mais ditador e convence-te mesmo do que não queres.
- Só queria uma sobremesa fresquinha, algo com fruta...
- Flan?
- ...?
- Sim, é de queijo..Muito levezinho.
- Mas não tem nada mais leve?
- Flan, vai gostar! Como é que se diz em português...? Pudim, não é?
A catedral vai assistindo a tudo com um imenso sentido de eternidade.
Percebe os encontros e expressa-se em música debaixo das arcadas.
E nas campanas de San Juan.
@ drytomato@blogspot.com
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