... Característica artéria, ainda hoje semeada pela memória de antigos palácios, igrejas e conventos, convertidos na actualidade nos mais diversos fins, a sua localização, alcantilada sobre o rio e a zona portuária, confere-lhe uma envolvência cenográfica invejável.
A meio da rua, frente à primitiva entrada principal do museu, abre-se um pequeno largo de planta em U, denominado largo do Dr. José de Figueiredo (primeiro director do Museu) cujo projecto é da responsabilidade de Reinaldo Manuel dos Santos (1731-1791), datável de 1778. Também de sua autoria é o desenho do pedestal do chafariz cuja parte superior recebe um grupo escultórico representando Vénus e Cupido, executado pelo escultor António Machado (-1810).
Mais adiante, na extremidade ocidental do edifício, abre-se um pequeno jardim construído sobre a chamada Rocha do Conde de Óbidos, formação rochosa sobre a qual se situavam outrora, de um lado o palácio dos condes de Óbidos (actuais instalações da Cruz Vermelha) e do outro um antigo convento feminino, o designado convento das Albertas. Este convento já não existe e no seu lugar ergue-se, hoje em dia, a ala do museu edificada no final dos anos de 1930, enquanto a pequena cerca do convento foi transformada num jardim público – o Jardim 9 de Abril – que dá acesso à entrada principal e que liga, através de duas longas escadarias que tiram partido da topografia, com a avenida 24 de Julho, toponímia do antigo Aterro oitocentista. 

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. Palácio Alvor-Pombal
O museu encontra-se instalado, desde o seu início, num palácio mandado construir no século XVII por D. Francisco de Távora (1646-1710), 1º conde de Alvor (título concedido por D. Pedro II, em 1683), não se conhecendo o arquitecto que o projectou. Admite-se, porém, que a construção se possa situar em torno de 1690, isto é, em data posterior ao seu regresso da Índia, em 1686, onde fora vice-rei.
Consistia o palácio, inicialmente, num grande corpo rectangular, confinando a poente com a igreja e dependências do contíguo convento de Santo Alberto cuja cerca abria, na retaguarda, para um pequeno jardim sobranceiro ao rio.
Os herdeiros do conde de Alvor vão ter dificuldades em manter a casa que alienarão mais tarde. Foi Matias Aires Ramos da Silva Eça (1705-1763), provedor da Casa da Moeda, que adquiriu o palácio por volta de 1747.
Apesar de o edifício ter saído incólume do devastador terramoto de 1755, Matias da Silva Eça não o habitou e passou a arrendá-lo. Sabemos que o embaixador da Alemanha, conde de Metch, que pagava anualmente a renda de 3 mil cruzados, aqui residiu de 1759 a 1762. Posteriormente, a residência vem a ser arrendada ao cônsul holandês Daniel Gildemeester famoso e opulento contratador de diamantes e protegido do marquês de Pombal, que construiu o palácio de Seteais, em Sintra. A morte de Matias Aires de Eça provocou um pleito jurídico entre os seus herdeiros, que só terminou em 1769. A casa é, então, arrematada por um irmão do marquês de Pombal, Paulo de Carvalho, que terá tirado partido desta ligação político familiar para tal vantajosa aquisição. Cerca de 1775, Gildemeester vem a patrocinar um sumptuoso programa de requalificação dos interiores da residência, para “boa acomodação da sua pessoa e família e de seu filho primogénito a quem queria dar estado”. O acrescentamento de um quarto novo, na banda ocidental, foi acompanhado de um enriquecimento dos tectos que seguiu uma gramática de aparato dentro do gosto rococó, tal como ainda hoje vimos. Nesta altura foram colocadas as armas do marquês de Pombal quer nos dois portais exteriores, quer no portal de acesso ao salão nobre do palácio.
É admissível que a autoria das obras de estuque dos tectos possa ser creditada a Giovanni Rossi (1719-1781), pois está próxima de outras intervenções que realizou nesta época: no palácio Pombal, em Oeiras, e no da rua Formosa, do mesmo proprietário, no palácio dos Machadinhos, à Madragoa e no palácio do largo Mesquitela, para só citar exemplos de arquitectura doméstica senhorial. De facto, as estruturas decorativas com temas de concheados e arabescos na fragilidade remetem para uma fragilidade acentuada pela assimetria e harmonia dissonante. Já a porta monumental, num discurso ostentatório que explode na sua exuberância de memória barroca, foi provavelmente idealizada pelo mesmo Grossi seguindo empréstimos de famosos ornamentistas franceses ou mesmo italianos a trabalhar em Inglaterra, cujas gravuras em álbuns, livros, recolhas, ou mesmo de modo avulso circulavam na Europa. De entre estes deverá citar-se Jean F. Cuvillés (1695-1796) cujos desenhos vieram para Portugal num portfólio de um colaborador de Grossi.

. Convento das Albertas
A ala mais recente do museu, acrescentada na extremidade confinante com o Jardim 9 de Abril, foi edificada no final dos anos 1930, no local onde antes se erguia o convento de Santo Alberto, contíguo ao palácio Alvor, primeira fundação das religiosas carmelitas descalças em Portugal. Sob a invocação de Santo Alberto de Vercelli, a fundação do convento ocorrera entre 1583 e 1598, durante a regência do cardeal - arquiduque Alberto de Áustria, vice-rei de Portugal.
No início do século XX, o que restava do seu edifício, construção simples e desornamentada, encontrava-se em estado de avançada ruína devido a um longo período de abandono e degradação que se seguiu à extinção das ordens religiosas, em 1834, e a um período de longa agonia que terminaria com a morte da última freira, já na década de 1890, tendo o edifício sido demolido em 1918.
Dele somente resta, actualmente, a antiga capela, preservada como exemplo típico do barroco português na sua harmoniosa conjugação entre a talha dourada e o azulejo. Vista do exterior, a capela apresenta um alçado despojado e austero, marcado por um portal nobre proto-barroco, guardando para o seu interior todo o esplendor ornamental.

. Museu / transformações do edifício
Ao longo dos tempos, depois de se tornar museu, o edifício conheceu várias adaptações e remodelações em diversas campanhas de obras que visaram sempre, em última análise, uma constante luta pela conquista de espaço.


Período de 1884 a 1911 . Mantendo o seu aspecto de palácio, o então chamado Museu de Belas-Artes e Arqueologia conheceu diversos arranjos durante essas décadas. Dele se sabe que teve uma primeira organização devida ao professor e pintor António Tomás da Fonseca, que o arrumou segundo um critério cronológico genérico, com nítida preferência pela pinacoteca, conhecendo, posteriormente, outros arranjos nas décadas seguintes. A partir de 1911 o Museu adopta a actual designação de Museu Nacional de Arte Antiga, mas também a actual vocação, fixando as balizas cronológicas vigentes graças à acção modernizante do seu primeiro director, José de Figueiredo. A cedência de muitas obras do acervo permitiu que se organizasse um tecido museológico nacional de que as Janelas Verdes são a matriz.


Campanha de obras de 1930/1940 . Promove-se a criação de um corpo anexo (projecto do arquitecto Guilherme Rebelo de Andrade), inaugurado em 1940, com a Exposição dos Primitivos Portugueses. O novo edifício apresentava-se como um gigantesco cubo dividido em três pisos, com um grande salão central e uma galeria superior, dedicados à exposição permanente e um outro, para as reservas, com um conseguido tratamento «natural» de climatização. A opção programática tem sido objecto de controvérsia, pela retórica estilística que assumiu de modo mais pomposo no exterior, procurando uma representação historicista vinculada à opulência joanina. Ressalve-se, no entanto, o acerto das volumetrias e o diálogo contextual que expressa. Do ponto vista funcional o aumento considerável de área teve como consequência a possibilidade de expandir significativamente o número de obras a expor, induzindo um discurso expositivo actualizado.

 

Remodelação do Palácio (1942-1947) . Neste período procedeu-se à construção de um corpo oriental de fachada que manteve o prospecto aspecto e o ritmo de fenestração do solar seiscentista, tendo-se instalado aí o auditório, a biblioteca e o gabinete de Desenhos e Estampas, novas salas de exposição permanente, uma galeria para exposições temporárias, vários gabinetes de estudo e de serviços.
O início dos anos 80, quando da realização da XVII Exposição do Conselho da Europa (1983), trouxe a possibilidade de uma intervenção estrutural no edifício do Anexo, de acordo com o projecto do arquitecto João de Almeida. Esta campanha consistiu basicamente na criação de um piso intermédio inteiramente novo, duas grandes salas para exposição no lugar da antiga escadaria e um espaço de claustro fechado no último andar.

O último ciclo de obras ocorreu em 1992-94 (segundo projecto de Arqui III/ João de Almeida) e visou essencialmente a duplicação do espaço de exposições temporárias, o tratamento do ar condicionado no conjunto do edifício, a reinstalação do Gabinete de Estampas com espaços próprios de exposição e de tratamento de conservação, a criação de uma nova área para os serviços técnicos e administrativos e, ainda, a ampliação de sectores de apoio ao visitante.

. História
O Museu foi criado em 1884, concretizando uma antiga aspiração surgida após a abolição das ordens religiosas, ocorrida precisamente 50 anos antes, a de dar destino às obras de arte que, nessa altura, passaram para a posse do Estado.
Reformado em 1911, o museu recebeu o nome que actualmente tem, assumindo, a partir de então, os contornos gerais que configuram as suas colecções.
A sua história ao longo de mais de um século é uma história de crescimento em vários ciclos, que passou pela redefinição do âmbito dos seus acervos e que tem sido, sobretudo, marcada pela conquista de novos espaços através de adições e requalificação das suas instalações.

. Um pouco de história – as origens do actual museu
Em 1834, após uma longa guerra civil seguida do triunfo dos liberais, um decreto datado de 28 de Maio desse ano aboliu as ordens religiosas, encerrando de imediato os conventos masculinos, e determinando o fecho dos femininos após a morte da última freira. Ficou de imediato o novo poder político com a grande responsabilidade de dar destino a um enorme volume de bens culturais móveis, tarefa de que viria parcialmente a incumbir-se a Academia Real de Belas-Artes, fundada em 1836 e também ela produto do liberalismo nascente.
Somente em 1869 se deu a abertura da primeira galeria pública de pintura da Academia em sete salas da sua sede, nos espaços do antigo Convento de S. Francisco de Lisboa, apresentando também um espólio significativo de legados e doações.

Foi, porém, o enorme sucesso obtido pela Exposição Retrospectiva de Arte Ornamental Portuguesa e Espanhola, organizada em 1882 nas salas do palácio Alvor-Pombal, que levou à compra deste edifício pelo Estado e à abertura oficial do museu, dois anos mais tarde, a 12 de Junho de 1884. Sob o nome de Museu Nacional de Belas-Artes e Arqueologia foi, assim, franqueado ao público, concretizando o objectivo de nele instalar o que então se designava por «Museus Centrais» e ainda entregue, nessa altura, à direcção e orientação da Academia.

 

As colecções aqui reunidas começaram por ser muito vastas, desde a arqueologia à arte moderna. Nas décadas seguintes, porém, algumas importantes colecções foram desafectadas e transferidas dando origem a outros museus: as de arqueologia para o Museu de Etnologia (actual Museu Nacional de Arqueologia), criado em 1893. Com o advento da primeira República, o Museu deixa de depender da Academia e com a retirada das colecções de arte moderna, em 1911, instaladas de novo em S. Francisco, no então criado Museu Nacional de Arte Contemporânea (actual Museu do Chiado), assume, na sua estrutura museológica, a identidade que mantém até aos nossos dias.