O título é uma ironia condizente com a postura nada católica de B Fachada mas também podia ser um aperitivo continuar o scroll down após a provocadora fotografia de promoção ao novo álbum Criôlo. Já muito se escreveu sobre aquele que é um novo capítulo de exuberância num trajecto curto mas riquíssimo e praticamente imaculado que coloca o músico na esteira dos Cinco (cantautores) Magníficos deste país: José Afonso, Sérgio Godinho, José Mário Branco, Fausto e Jorge Palma. À superfície vêm as raízes africanas; não as do próprio Fachada mas aquelas que nos são transversais e que, para o bem e para o mal, emanam do colonialismo. Elas que tanto estão presentes na gastronomia como na língua ou nos beats que marcam o ritmo da rua. Durante anos, essa herança foi olhada com sobranceria e desperdiçada por arrogância. Jose Afonso foi a excepção permanente e, a espaços, Heróis do Mar, General D, os GNR ou os Mler Ife Dada as excepções. Esse legado riquíssimo só foi devidamente aproveitado e actualizado pelos Buraka Som Sistema que, não por acaso, formam com Fachada, os Deolinda, os Dead Combo os quatro maiores da actualidade, bem secundados pelos Paus e pelos Orelha Negra. 

O que falta a Fachada é vencer a prova de palco, ele que tem tido algumas dificuldades em criar uma ponte com quem o ouve em tempo real e rosto-no-rosto. O cerebralismo, a minúcia, o perfeccionismo e o rigor de estúdio não encontraram, até hoje, um complemento performativo embora não seja essa a razão pela qual Fachada é odiado tal como é amado. Por isso, as sextas-feiras no Lux (dia 21) e no Passos Manuel (28) representam uma oportunidades com ares de despedida já que Fachada planeia não dar concertos durante um ano. E, de acordo com o que expressou à TimeOut, regressar depois à la Ornatos. É uma piada que muitos não entenderam mas da qual se extrai algum paralelismo com a raridade de Manel Cruz. Fachada não é um campeão de likes nem um fenómeno viral; chega a quem tem que chegar e é consistente na relação com essa massa informada e culta. Mas na hora de enfrentar o touro, ainda há questões por resolver. O desafio passa por transpor essa barreira apenas na companhia de programações e teclados.

Criôlo pode ser ouvido aqui

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Comentário de Pedro Castanheira em 19 Setembro 2012 às 18:34

Gosto da musica, mas nunca os vi em palco. É uma falha que tenho de corrigir

Comentário de Ana Pinheiro em 19 Setembro 2012 às 17:01

A sério? Há que ir fazer o teste, nesse caso. Desde que não se dispa em palco... ;)

Comentário de Davide Pinheiro em 19 Setembro 2012 às 13:05

Pois, eu estive nesse concerto e não fiquei convencido :)

Comentário de Ana Pinheiro em 19 Setembro 2012 às 13:01

Será que lhe falta vencer a prova em palco?! Sempre que tentei vê-lo em palco, bati com o nariz na porta (e do outro lado da porta - no Cinema S. Jorge, no Super Bock em Stock de 2010, por exemplo - ouvia-se o público quase, quase em êxtase... ;)

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