Sabemos que podemos confiar em Leonard Cohen quando em nenhum dos três concertos que deu em Lisboa consecutivamente e à média de um por ano desde 2008, transmitiu sinais de cansaço. E no entanto,  aquele que é um dos mais fascinantes artistas vivos planeava continuar sossegado em Los Angeles - o que mesmo para um septuagenário pode ser duro -, a ressacar de uma temporada de exílio budista. 

Em 2008, quando anunciou a primeira digressão em 15 anos, Cohen procurava recuperar de um desfalque da sua antiga manager que o havia deixado com menos cinco milhões de dólares do que era suposto. O caso arrastou-se em tribunal com ameaças várias de Kelley Lynch. A justiça deu como provadas as tentativas de extorsão que o cantor foi vítima o que parece impossível para quem se dirige a um senhor com um ar digno e respeitável. 

Cohen personifica a figura do avô ideal, conselheiro e sábio dos becos da vida. Quando sobe ao palco, é outro, não por se tornar num Mick Jagger, nem a sua obra é condizente com ziguezagues de anca, mas há passos subtis de dança, uma voz que não se cansa e um alinhamento de duas horas e meia (!). 

Quando o vi em Algés, num palco cansado do Optimus Alive que aguardou uma semana para o receber, surpreendeu pela resistência. Uma banda elegante e duas coristas admiráveis criaram as condições ideais para recordar um cancioneiro soberbo. Dos nove mil que então lá estiveram, muitos, como eu, terão acreditado que se tratava de uma derradeira oportunidade. De resto, nessa mesma noite Lou Reed actuava no Campo Pequeno naquele que era um "duelo" de veteranos. A vitória foi de Cohen em número (de espectadores) e emoção. O Facebook ainda não era suficientemente popular em Portugal para documentar essas reacções mas hoje a rede social poderia suportar esta tese com maior eficácia. 

Cohen voltaria em 2009 e 2010 com o mesmo espectáculo mas já no Pavilhão Atlântico e rezam as crónicas que a sala suportou o silêncio necessário para o ouvir. No regresso ao multiusos do Oriente lisboeta (domingo, dia 7), há um novo e fabuloso álbum - Old Ideas - para cantar mas nem era necessário esse pretexto para se imaginar uma espécie de missa dominical em que o carácter telúrico e a espiritualidade são previsões climáticas para uma noite de canções redentoras. E como está a sociedade necessitada de lavar os pecados.

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Comentário de Ana Pinheiro em 3 Outubro 2012 às 10:07

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