CULTURA: Os Santos Populares na tradição portuguesa

Santo António, São João e São Pedro são os três santos populares mais festejados pelo povo português, desde o Minho ao Algarve, que o mês de Junho consagra a estes santos, desde os dias doze ao vinte e nove.

As noites que antecedem o dia dos santos são celebradas com marchas, música, danças, fogueiras, fogo de artifício, arcos, balões, manjericos, cidreira, alho porro, alfazema... É tradição as pessoas saírem para a rua com martelos de plástico para bater (tocar) na cabeça dos que passam e, com cidreira, alfazema e alho porro para dar a cheirar.

Possivelmente já ouviu falar de Fernando de Bulhões e Taveira de Azevedo? Não? Mas Santo António você conhece! Santo António nasceu em Lisboa, por volta do ano de 1195. Em 1210, pediu ingresso no Mosteiro de São Vicente de Fora, dos Cónegos Regulares de Santo Agostinho. Em 1220, transferiu-se para a Ordem dos Frades Menores, com o nome de António (Santo Antão, em latim Antonius, padroeiro do convento dos frades de Coimbra, onde ingressou), influenciado pelo trabalho que São Francisco de Assis - eram contemporâneos - vinha desenvolvendo nessa ordem. Em 1222, foi ordenado sacerdote, revelando-se um grande pregador contra as injustiças e as desordens sociais, a exploração dos pobres e a má vida de certos sectores do clero. Sua fama de pregador e milagroso era tanta que, dez meses após a sua morte - que segundo o Livro dos Milagres ocorreu no dia 13 de Junho, em Pádua, na Itália, de problemas decorrentes de asma e diabetes, quando contava 36 anos de idade - foi canonizado e recebeu o título de Doutor da Igreja. Sua sepultura, na Basílica de seu nome, em Pádua, é um centro de peregrinações.

A imagem de Santo António, que Portugal transpôs para o Brasil, é a do protetor dos pobres e necessitados, daquele que socorre as vítimas de injustiças e está sempre ao lado dos mais humildes. Mas há também um lado guerreiro do santo, que tornava e evocação do seu nome, arma contra os perigos do combate. No Brasil, seu papel de militar foi importante também, dadas as inúmeras guerras e revoltas durante as quais era invocado. E tanto fez ao lado das forças armadas brasileiras que recebeu patente e mesmo soldo, em várias companhias do exército brasileiro. Recebeu ainda, por esta razão, o apoio dos militares com dinheiro e prestígio, às suas igrejas, obras e festas. É incontável o número de homenagens a Santo António como igrejas construídas em seu louvor, nomes de ruas, praças, pessoas, etc., na história e geografia brasileiras. A sua devoção chegou juntamente com os Franciscanos e trazia duas formas de invocação: para uns era Santo António de Lisboa, em referência ao local onde nasceu; para outros era Santo António de Pádua, referindo-se ao lugar onde morreu e foi sepultado. No entanto, ficou mais conhecido como santo casamenteiro, porque diz a lenda - que envolve partes de sua vida - que, quando ainda era um estudante no mosteiro em Portugal, protegia as moças pobres que não tinham dinheiro para o dote. Saía à rua pedindo esmolas, que eram dadas às famílias dessas moças e se convertiam no dote, que lhes garantiria o casamento.

Segundo Gilberto Freire, a escassez de portugueses na colónia, sublinhou o valor do casamento ou mesmo da procriação (com ou sem o casamento), o que tornou populares os santos padroeiros do amor, da fertilidade e das uniões. Assim, os grandes santos nacionais tornaram-se, à época, aqueles aos quais a imaginação popular atribuía milagrosa intervenção capaz de aproximar os sexos, fecundar mulheres, proteger a maternidade, como Santo António, São João e São Pedro. A crença de que Santo António se "devidamente" invocado, perturbado com pedidos de todo o tipo e até mesmo "torturado", arranja casamento, mesmo para a mais sem graça das moças, é muito difundida e é a qualidade mais prezada do santo durante as festas joaninas. São João também já teve estas funções, e também São Gonçalo (que continua sendo invocado com esta finalidade, no interior do Brasil, principalmente por mulheres mais velhas, solteiras ou viúvas).

Santo António a treze de Junho

Com marchas de encantar,

A vinte e quatro o S. João

A vinte e nove S. Pedro a terminar.

 

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Comentário de Joana Sá Pinto em 12 Junho 2012 às 23:11

Eu gosto de ir à Avenida da Liberdade ver as marchas

No ano passado ganhou a Marcha do Alto Pina e este ano quem ganhará? :)

Comentário de Antonio em 12 Junho 2012 às 23:03

Moro em Lisboa mas nasci no Porto. Acho muito interessante a cultura dos Santos populares e todos anos, sempre que posso vou ao Porto e a Lisboa.

Hoje é noite de Santo António:)

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