Foi por volta da hora de almoço que cheguei ao Porto. Estava a visitar a cidade pela primeira vez e sentia-me dominada pela curiosidade. Depois de uma tranquila viagem de comboio, saímos na estação da Campanhã e decidimos almoçar por perto. A escolha mais natural foi a Casa Aleixo, onde os filetes de polvo e o ambiente tradicional me conquistaram por completo.
Foi de estômago satisfeito que fotografei a Casa da Música, com a Nikon D90 que sempre me acompanha. Esta estrutura de linhas rectas foi concebida para assinalar o ano de 2001, em que a cidade do Porto foi Capital Europeia da Cultura e é o primeiro edifício construído em Portugal única e exclusivamente dedicado à música o que, desde logo, já faz deste ponto de cultura algo de extraordinário.

Descobrindo o Porto, passeámos pela Rua de Santa Catarina, para lanchar no mítico Café Magestic. «Mais do que um café», foi construído em 1921 e arrisco-me a dizer que parece não ter mudado nada. Num ambiente simplesmente fantástico, alguém tocava piano enquanto lanchávamos, com um sentimento de que alguém de “importante” havia ali estado e que aquelas paredes haviam de ter muitas histórias para contar. Senti que podia estar a lanchar ao lado da Geração de Orpheu.
Em tempos situado em Gaia, o Hard Club reabriu ao público em plena baixa portuense. Num espaço dedicado às artes, em que foram investidos 2 milhões de euros (Kalú, dos Xutos&Pontapés também teve a sua quota-parte), jantei ao som de uma música ambiente com cheirinho de jazz, abafada pelo barulho da convivência após o lançamento do vinho comemorativo dos 32 anos de carreira dos Xutos&Pontapés, produzido pela Casa Agrícola Alexandre Relvas.
Foi num Hard Club lotado que a maior banda de Rock N’Roll portuguesa deixou para trás um ano de azares (material roubado, concertos cancelados…) e deu um concerto com um dos melhores alinhamentos já vistos.
Som da Frente abriu para Esquadrão da Morte, que trouxe de voltas músicas como 1º de Agosto, Torres da Cinciberlândia, Cerco, Viuvinha ou Mãe. Depois de a mítica Remar Remar, Gritos Mudos. Para surpreender, Nós Dois e para finalizar a primeira parte Prisão em Si e Avé Maria. Kalú e Zé Pedro entraram em palco, com uma pandeireta e uma guitarra (respectivamente) e o primeiro cantou Tonto, para o segundo poder cantar Submissão. Depois do intervalo, Alta Rotação, Dados Viciados, Vida Malvada, Dia de S.Receber e Fim-de-Semana. Depois da instrumental A minha aventura homossexual com o General Custer, apareceram músicas não ouvidas há muito tempo, como Quero-te, Sémen, Morte Lenta e Dantes. Para não esquecer que se comemoravam 32 anos de carreira, Classe de 79. Casinha, música originalmente cantada por Milu em O Costa do Castelo, antecedeu grandes clássicos como Maria, Homem do Leme, Para Sempre e Circo de Feras. Um concerto que teve um significado e certamente nunca será esquecido pelos que o presenciaram.
Seguiu-se uma bela noite de descanso no hotel Ipanema Park, à qual se seguiu ainda um belo pequeno-almoço. Viagens no Andante para cá e para lá e chegámos ao Estádio do Dragão, que só vimos de fora.

Passadas algumas horas a passear nas ruas da Invicta, fomos à Sé Catedral do Porto, edifício de estrutura romântica dos séculos XII e XIII. Simplesmente magnífica, com a sua rosácea, abóbadas e arcos, numa imponência natural, colmatada pelo claustro gótico, datado em fins do século XIV. Deixando a Sé para trás, vimos a Torre dos Clérigos por fora, uma vez que as visitas já tinham encerrado. Suponho que, de baixo, não dê para ter a noção dos 76 metros de altura da construção finalizada em 1763.
Seguiu-se a maior surpresa de toda a viagem, a Livraria Lello, com 105 anos de idade. A magia inexplicável do lugar sente-se assim que se entra, com uma decoração sublime. Sobe-se para o andar de cima por umas escadas com uma estrutura fantasticamente invulgar, fica-se mais perto do vitral magnífico que adorna o tecto. As paredes, naturalmente forradas a prateleiras, oferecem-nos o melhor da literatura nacional, num ambiente artístico-cultural único.

Ainda meia atónita com a livraria, dirigimo-nos para a Praça General Humberto Delgado, de onde partimos para a majestosa Igreja Monumento de S.Francisco. De estilo gótico, começou a ser construída em 1245, por franciscanos, sendo concluída em 1410. Com a sua talha dourada barroca, é um dos ex-libris da cidade.
A seguir, as catacumbas que, naturalmente repletas de jazigos, contrastam com as paredes brancas.
Já exausta, regressei à Campanhã e, no comboio de volta a Lisboa, ocorreu-me que o Porto mantém um tradicionalismo e bairrismo que já dificilmente se encontram em grandes cidades.


Casa Aleixo
Morada: Rua da Estação 216, Porto
Telefone: 225370462

Casa da Música
Morada: Avenida da Boavista 604-610, Porto
Telefone: 220120220/220120200

Café Magestic
Morada: Rua de Santa Catarina, 112, Porto
Telefone: 222003887

Hard Club
Morada: Mercado Ferreira Borges, Porto
Telefone: 707100021

HF Ipanema Park
Morada: Rua de Serralves 124, Porto
Telefone: 225322100

Livraria Lello&Irmão
Morada: Rua das Carmelitas 144, Porto
Telefone: 222002037