PASSEIOS (cá dentro): Viagem pela pacificidade histórica da vila de Pontével


A 65 quilómetros de Lisboa e a 18 de Santarém, é possível encontrar um local remoto de pura serenidade e tranquilidade, com natureza verdejante que envolve toda a sua área geográfica, suaves riachos que cortam a planície e criam uma agradável atmosfera visual e sonora composta pelo desenrolar envolvente das águas e cantar de pássaros de várias espécies, sendo ainda complementado por um suave toque de intervenção de uma população agradável e simpática que permite dar um cuidado natural e cultural da história desta vila.

 

Esse local chama-se Pontével.

 

História

Esta freguesia, segundo o Dr.Virgílio Arruda, "in Santarém no Tempo" é muito antiga, "Tão antiga como Portugal, senão mais" visto que D. Afonso Henriques doara-a à Ordem de Malta, como comenda, com a Igreja de S. João do Alporão de Santarém, passando então a designar-se Comenda de Ponteval, por ser neste local que os comendadores tinham a sua residência, nome por que é designada até D. Afonso IV.

 

Quanto à sua antiguidade pode-se hoje afirmar que Pontével é de facto mais antiga que Portugal , pois existem testemunhos da presença do Homem em Pontével, desde a Pré-História, facto descoberto em 2002 através de escavações, no rio da Fonte da Telha, junto a um pilar da ponte da variante E.N.365-2, Aveiras de Cima/Cartaxo. A existência destes achados prova que o Homem se fixou em Pontével há milhares de anos, provavelmente atraído pela abundância de águas e pela fertilidade das suas terras.

 

A fundação de Pontével está certamente ligada à fertilidade dos seus solos e à passagem de importantes vias de comunicação, como a estrada romana que ligava Olissipo (Lisboa) a Scalabis (Santarém), da qual ainda existem vestígios, acima da Fonte da Concha, na Horta d'Ourives. Recebeu carta de foral de D. Sancho I, em 1194, confirmada por D Afonso II, em 1218.

 

A existência de juízes de vintena sujeitos à Comarca de Santarém atesta a sua importância política e económica desde a época medieval. Foi também sede da Comenda de S. João do Hospital (Ordem de Malta), chegando a ser cabeça de comenda no século XVII.

 

Após a Restauração da Independência, foi criado o Condado de Pontével, por ocasião do casamento de D. Catarina de Bragança, filha de D. João IV, com o Rei de Inglaterra, um título que se extinguiu devido à ausência de sucessores por parte dos seus titulares (D. Elvira de Vilhena, condessa de Pontével, que acompanhou como aia D. Catarina na corte inglesa).

 

A situação privilegiada de Pontével, entre Santarém, Almoster e Alenquer, tornou-a ponto de passagem obrigatório dos mais altos nobres da corte, tal como a Rainha Santa Isabel que "quando se deslocava de Almoster para Alenquer, passava sempre por Pontével"; D. Nuno Alvares Pereira, decidiu neste local tomar o partido de D. João I; Cristóvão Colombo aqui pernoitou quando se deslocava para Santarém após o encontro com D. João II em Vale do Paraíso;

E em Pontével também se encontraram os exércitos do conde de Abranches e D. Afonso V em 1449, facto que levou o Prof. José Hermano Saraiva a referir Pontével como "a Vila que já foi Capital Política do País."

 

Heráldica

Armas - Escudo de vermelho, uma ponte de um arco de prata, lavrada de negro e movente dos flancos, acompanhada em chefe de uma cruz da Ordem de São João de Jerusalém, dita de Malta, entre dois cestos, contendo cada um ramos de espigas e cachos de uvas, tudo de ouro; em ponta, cinco faixetas ondeadas de prata e azul. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com a legenda, em maiúsculas: PONTÉVEL.

 

Descrição da Localidade

Encaixado na natureza, Pontével é um local pacífico e cuidado cujo passado glorioso deu-nos alguns edifícios que foram propriedade de nobres com o objectivo de passar os seus tempos de lazer. São casas altas de varandas alpendradas, com tecto de madeira suportado por colunas, cujo acesso se faz por uma escada de alvenaria, que caracterizam a arquitectura da nobreza rural, dos séc. XVI, XVII e XVIII.

 

Além "destes livros de pedra" onde se pode ler a história de Pontével, é também possível encontrar outros testemunhos, tais como estelas funerárias fragmentos de colunas clássicas, moedas e muito recentemente um portal manuelino que estava oculto numa parede na Quinta da Fonte da Telha, ou Quinta dos Morgados de Pontével.

 

Posteriormente foi introduzido outra estrutura física nas casas típicas de Pontével, caracterizado pela utilização do azulejo de importação brasileira utilizado para forrar as fachadas, aliado ao ferro das sacadas e clarabóias

 


Pontével dispõe de uma situação geográfica privilegiada, a cerca de 60 km de Lisboa, fáceis acessos quer pelo auto-estrada do norte, beneficiada agora pela variante à E.N. 365-2, quer pelo caminho-de-ferro de Azambuja, tornaram a povoação não só uma escolha para segunda habitação de férias ou fins-de-semana, mas também a residência fixa duma população que embora trabalhando nos arredores ou em Lisboa, prefere desfrutar da calma do campo e da beleza das suas paisagens.


A Vila tem hoje condições para satisfazer as necessidades básicas de quem lá vive; as velhas mercearias deram lugar aos mini e supermercados, o mercado diário, peixarias, restaurantes, estabelecimentos dos mais variados ramos, não esquecendo a velha taberna, que fiel à boa tradição Ribatejana, continua a exibir o bom vinho carrascão, e a desempenhar a mesma função social de outrora.

 

Cultura

O povo de Pontével teve desde sempre várias profissões diferentes. A maior parte da população sempre se dedicou a agricultura, uns tinham propriedades onde trabalhavam durante todo o ano, muitos principalmente jovens e crianças deslocavam-se para o "campo" na região de Valada do Ribatejo, Reguengo, etc., para trabalharem nas grandes quintas existentes. Passavam lá semanas sem vir a casa, ficando na quinta onde a noite e a luz da candeia permitiam às raparigas bordarem o seu enxoval, cantar e até dançar. Nas Quarta-feira os namorados iam às quintas ver as suas amadas.

 

As quintas facultavam várias ocupações tais como tarefas relacionadas com a plantação, colheita do arroz, trabalhos nas vinhas entre outros. Também havia quem ficasse pela localidade, como por exemplo o sapateiro que trabalhava todo o dia e ensinava aos seus aprendizes a sua arte. Havia quem se dedicasse a produção de cal, que era feita em fornos dos quais ainda hoje existem vestígios.

 

Nos finais do século XIX princípios do século XX, Pontével começa de novo a reaparecer e a partir desse momento, pode-se dizer que a vila esteve em pleno desenvolvimento. Em 1906 foi fundado um jornal que tinha por nome, "A Verdade", era totalmente feito a mão e do qual só restaram provas a partir do terceiro numero.

 

Em 1956 começou a fazer-se a Festa dos Fazendeiros, a qual é realizada sempre no primeiro Domingo a seguir a Páscoa, ou seja no Domingo de Pascoela. Nesta festa são representadas as ocupações acima descritas, típicas da vila de Pontével, com trajes típicos da época.

 

O Camponês usava calça ajustadissima à "boca de sino", barrete preto, posto com garbo, e camisa branca engomada em dias festivos. Por cima desta utilizava apenas o colete. A jaqueta ficava pendurada no ombro esquerdo. Na mão direita empunhava o inseparável cajado.

A camponesa - a campina, no dialecto do povo- essa era garrida em extremo: saia de baeta vermelha, com barra de renda preta por trás, fazendo-a ela abrir em leque com o manear gracioso do seu andar. Calçava tamanca preta de polimento, e as típicas meias de algodão de cores berrantes com pontos complicados e denominadas, segundo estes, meias aos "olhos", aos "arcos", as "pipias", etc. A blusa era de cor clara e bem ajustada ao tronco esbelto donairoso. O lenço de lã, de muitas cores, era posto a meio da cabeça para deixar ver o cabelo bem penteado e bem untado com "azeitinho da candeia". No avental a camponesa exibia toda a sua arte em pontos abertos.

 

Hoje já não se vê este tipo de traje a não ser no Rancho Folclórico de Pontével que tenta reproduzir com rigor todos os trajes utilizados pelos nossos antepassados.

 

 

Eventos e Comemorações


Festa dos Fazendeiros (Domingo de Pascoela - Outubro)

 

A Festa dos Fazendeiros começou por ser uma festa de convívio entre agricultores e fazendeiros sobre a temática do seu dia-a-dia – a agricultura. Era esta a actividade caracterizadora de Pontével e os agricultores (dinâmicos criadores de espaços e acontecimentos tradicionais) foram levados a assumir a sua simplicidade e modéstia, e a figura activa de homem e mulher de trabalho, ano após ano, no Domingo de Pascoela.

 

O ponto alto da iniciativa caracteriza-se por um desfile de carácter agrícola / rural – etnográfico, com carros e carroças que desfilam cada um sob um quadro de uma actividade agrícola: poda, empa, cava, pulverização, enxofra da vinha, vindima, lagaragem, monda do trigo e a sua apanha, apanha da azeitona, cultura do milho, trabalhos nas hortas, tratamento dos pomares, ida ao pinhal apanhar lenha, o cozer do pão, o lavar a roupa no rio, etc.. No fundo  todas as tarefas que o agricultor e a sua mulher desenvolvem entre a vindima e a desfolha, no ano seguinte.

Feriado da Quinta Feira da Espiga (40 dias após a Pascoa)

 


Artével (Meados de Junho)


A Artével - Feira de Artesanato e Artes Plásticas / Feira da Caspiada ocorre normalmente entre 18 e 20 de Junho, dias os quais a vila enche-se de cor e animação, para acolher as artes e os ofícios tradicionais, assim como os doces típicos, em particular, a especialidade singular da terra - a caspiada.

 

Na Artével/ Feira da Caspiada, o Largo da Igreja Matriz preenche-se de expositores, mostrando os saberes e artes tradicionais, que se conjugam com tendências mais contemporâneas, com destaque para o chamado "artesanato urbano".

Mas os motivos para o convívio não se ficam por aqui, as jovens da freguesia serão colocadas à prova, na eleição da Rainha das Vindimas, colectividades e o folclore a preencherem o palco, partilhado também com várias bandas, numa noite dedicada à juventude.

 

A feira encerra com um espectáculo de fogo-de-artifício.

 


Festejos em honra de N.ª Senhora do Desterro (Primeiro fim de semana de Setembro)


Os festejos, são organizados há mais de 50 anos pelos pontevelenses que completam nesse ano 40 anos, e pretendem proporcionar cinco dias de convívio, sendo a música um dos principais atractivos.


Animação musical, arraial, almoços regionais, actividades desportivas, festival de folclore, espectáculo piromusical, festival da juventude, corrida de carros de rolamentos, animam a vila durante estes dias de festa.

 

As festas em Honra de Nossa Senhora do Desterro são organizadas pelos Quarentões 2011 de Pontével. Esta festa centenária de origem religiosa, não recebe quaisquer subsídios ou ajuda de entidades públicas e se realiza com o trabalho anual (com a realização de vários eventos ao longo do ano) dos quarentões, da população e das empresas a quem pedimos apoio, tornando-se absolutamente indispensável a colaboração de todos para alcançar este objectivo.

 


Conclusão

Pontével, com toda a sua cultura histórica e paisagística, é certamente um local de visita obrigatória todo o ano, com especial destaque para as épocas festivas.

 

É de assinalar ainda que existem diversos eventos que decorrem todo o ano, como por exemplo a Festa da Feijoada que decorrerá no dia 30 de Janeiro a partir das 13h, e a noite ribatejana que irá ocorrer no dia 5 de Fevereiro na casa do povo de Pontével a partir das 20 horas,onde o fado e a gastronomia são os principais atractivos deste evento.

 

Devido à enorme proximidade com Lisboa e Santarém, é um óptimo local para construir habitação, principalmente a todos que procuram um refugio calmo na natureza, com enorme riqueza histórica e com acesso rápido a zonas urbanas. Este facto é bastante visível em diversos locais de Pontével, onde o crescente numero de vivendas e quintas a serem construídas, transmite uma aposta de alguns Portugueses no contacto directo com a fauna, a flora e a história.

 

Caso tenham interesse nesta localidade, não deixem de visitar os sites colocados na bibliografia, onde podem consultar informações actualizadas e em pormenor sobre Pontével.

 

Bibliografia

http://www.jf-pontevel.pt/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pont%C3%A9vel

http://www.festadepontevel.com/

 

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Comentário de Filipe Amorim em 2 Fevereiro 2011 às 13:49

Boa tarde,

 

Sim, tenho algumas sugestões de restaurantes em Pontével.

Pessoalmente aconcelho os restaurantes "O Mosteiro", e "O Caçador", ambos localizados no centro da vila. Jantei pessoalmente em ambos e fiquei bastante satisfeito com o serviço e qualidade. Ambos localizam-se proximos um do outro.

 

Posso indicar também o restaurante "Pont'evel", a churrasqueira "MO", o pronto a comer "O Tachito" e a pizzaria "Rocha Home". Neste conjunto de restaurantes, apenas comi no "Rocha.Kome", o qual gostei bastante e recomendo igualmente, no entanto os mais antigos nesta região são os que indiquei no inicio.

 

Cumprimentos e boa refeição!

Filipe Amorim

Comentário de Pedro Bretes em 1 Fevereiro 2011 às 2:54
Filipe, tem alguma sugestão de restaurantes nessa zona?

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