Hoje os pés que há meses pisavam solo romano percorrem a calçada portuense a passo de turista. O sol resolveu espreitar depois de semanas e semanas de solitária e, por isso, também o corpo resolveu sair à rua, de Alma renovada.
A Avenida dos Aliados parece concentrar em si os quatro cantos do mundo. Vêem-se pessoas de todas as formas e feitios, em esplanadas, passeios, sopés de estátuas...
A rua que desce a caminho do Douro está em processo de mutação – em obras, por assim dizer – mas não desanima de todo quem por lá passa e sabe o que vai encontrar no final. O rio é recompensa mais que suficiente pelo trabalho de cortar por uma ou outra esquina para fugir aos buracos na estrada.
Os estrangeiros, esses – que o autoproclamam através das pernas cor de cal e cabelos loiros quase brancos – não hesitam em soltar um suspiro de admiração perante o Rio, que “bebe as cores da cidade”. (E. Gonçalves)
A vista é de espanto e, por isso, os olhos esbugalham, a voz fica presa e é esboçado um sorriso, assim, sem mais nenhum porquê, alheio a todos os senãos.
Junto aos cafés, um homem de tez escura toca Bossa Nova. As reminiscências não tardam a pairar no ar, acompanhando o voo das gaivotas e poisando em mim, em cheio na memória de quem sente falta do Tevere como se de um pedaço de Alma se tratasse.
A cúpula do Vaticano, o Castel Sant’Angelo, o Palácio da Justiça deixam em quem os vislumbra eterno deslumbre e eu não me limitei a vislumbrá-los. Contemplei-os. Dias e dias, semanas, quem sabe, já que na sua presença o tempo se perde (sem se perder) – parando, congelando, eternizando-se.
Hoje, de frente para o Douro, sentada na beira-rio na pedra quente do sol, não sei se ria ou se chore, se evoque palavras de agradecimento ou de rancor.
É estranho. É uma guerra entre rios mas, acima de tudo, entre vidas: em Roma vivi uma e hoje existe outra.
Ao Douro sei que tenho a agradecer o esplendor simples das suas margens e subtileza das suas correntes mas não perdoo tudo o que me faz lembrar e sentir.
Ao Tevere são também mil as palavras de gratidão que todos os dias envio telepaticamente mas não esqueço que foi quem roubou o lugar-estrela do Douro – o lugar capaz de mover mundos e fundos interiores, capaz de fazer renascer, feitas fénix, as mais preciosas memórias.
Um e outro, fazem doer porque fazem lembrar e, ao fazer lembrar, fazem sorrir e voltam a fazer doer. Um e outro são saudade palpável. São o que chamo portais de nostalgia.
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