Pessoas apressadas caminham todos os dias pelos túneis do metropolitano lisboeta. Uma urgência desmedida em chegar a um destino qualquer que as aguarda passivamente. Seres diferentes, espalhados por variados bancos, aguardam pela chegada do tão esperado metro. Os que se conhecem conversam entre si, quebram o silêncio deixado pelos que viajam sozinhos. Assim que o metro chega a confusão instala-se. As pessoas, conhecidas ou não, atropelam-se reciprocamente numa tentativa desenfreada para chegarem o mais rapidamente possível às pequenas e já apinhadas carruagens que se transformam em absolutos armazenamentos de seres humanos.

Algures no meio desta multidão acelerada lá estou eu. Empurro, esgueiro-me um pouco mais e finalmente consigo entrar para uma das carruagens! Meio segundo depois a porta fecha-se por detrás de mim com um sonoro bip-bip-bip. Foi por pouco, mas consegui! Estou dentro do metro! Mal me consigo mexer, quase sou esborrachada pelas portas, mas… consigo entrar! Uma mulher e um homem encostam-se a mim e assim fico eu durante um bom bocado. Não me mexo, pois não consigo, quase não respiro, para não ocupar mais espaço, e tento segurar a minha preciosa mala. Pouco depois, o que a mim me parece uma eternidade, há uma paragem! Saem duas pessoas, mas entram mais quatro! Os rostos, outrora quase inexpressivos, começam agora a ganhar traços de uma certa impaciência. Olhares saltitantes percorrem a carruagem continuamente num esforço falhado para se abstraírem do tempo. Alguns desconhecidos acotovelam-se mutuamente numa tentativa desanimada para alcançar uns simples milímetros de espaço. Um cheiro nauseabundo, a transpiração acumulada, começa a percorrer a carruagem… Um desespero crescente toma conta de mim… por que decidi eu apanhar o metro às sete da manhã?

O metro continua a sua travessia despreocupada, parando ocasionalmente para deixar alguns destes seres azafamados nos locais pretendidos. Última paragem, Santa Apolónia. Eu saio. São poucos os resistentes desta viagem atribulada, mas apesar de todas as dificuldades a pressa que exibiam ao princípio não se perdeu. Caminham rapidamente e seguem rumos diversos. Não param para observar ou para falar. Correm… têm medo de perder tempo…