
Em pleno coração lisboeta, encontra-se uma loja de discos, a Louie Louie. Com a geração mp3, em que as músicas facilmente surgem sem pagar, como sobrevive uma loja destas? Fui falar com eles e descobrir...
Como surgiu a ideia de fazer uma loja de discos usados?
É uma história longa. Começou por ter a ver com o gosto pela música pop e evoluiu para a ideia de criar uma loja de discos, que seria uma loja diferente, de música diferente. A ideia que mais se vende por aí é pôr no mercado a música que se faz agora e nós fazemos fazemos uma revenda de materiais mais antigos. Temos uma outra visão sobre as coisas. A música não se esgota no momento. Há um passado, um presente. Uma espinha dorsal que as pessoas gostam de apanhar para perceber o que se passa no presente. E as pessoas gostam de ouvir a música que se faz hoje, dos artistas de hoje. Mas também têm uma curiosidade em saber o que ele fez antes.
A lojas de segunda mão também têm um bocado esse lado, um lado arquivista que recupera o passado, havendo um incentivo de compreensão e aprofundamento da música.
As pessoas que mais se identificam com este tipo de lojas são as que gostam de ter o objecto e têm uma ligação mais profunda e sistemática com a música.
Criei a primeira loja de discos em segunda mão em Lisboa com o meu sócio da altura, há dezasseis anos: a Carbono.
Separámo-nos, ele continuou com a Carbono e eu criei a Louie Louie, que já existia no Porto.
Como é que surgiu um mercado para os discos usados?
A ideia é comprarmos os discos às pessoas quando elas já não os querem, como colecções a particulares. Fazemos publicidade de que compramos aqui e são as pessoas que vêm ter connosco.
Funciona como uma espécie de reciclagem musical.
Os discos actuais compramos directamente a fornecedores, mesmo os vinis, que podem ser reedições de discos antigos.
Houve um aumento da compra do vinil?
Sim, houve um grande revivalismo e, curiosamente, acho que é provocado pela invasão dos formatos digitais. As pessoas, de alguma maneira, acedem ao formato digital gratuitamente mas, ao mesmo tempo, há uma contra-reacção e há pessoas que valorizam mais o objecto.
Não houve só um aumento da compra do vinil antigo, mas um aumento da produção. A música já é produzida nos formatos CD’s, MP3 e vinil.
Há uma grande diferença de qualidade de som do CD para o vinil?
Sim. O vinil tem uma leitura física, se o vinil for bom e em bom estado. Se a agulha também for boa, assim como o amplificador, permite ter uma capacidade de reprodução sonora eventualmente superior à de um CD. Para ser metida num espaço tão pequeno, a música é comprimida. Isto é, há uma parte do espectro sonoro que desaparece, que se perde.
Claro que o vinil necessita de bom equipamento, mas a qualidade sonora é melhor que a do CD ou do MP3.
Com o vinil sente-se uma envolvência sonora completamente diferente.
Digamos que uma audição em vinil pode ser mais compensadora.
Como conseguem competir com as outras lojas?
Precisamente pela originalidade, por não nos rendermos aos top’s e à MTV.
É a nossa única hipótese.
Como é fazer o que se gosta? Não estar preso a um emprego que serve para “sobreviver”?
Como costumo dizer, era uma mania que se tornou num modo de vida.
Fiz um percurso que se baseou em transformar um gosto social num modo de viver.
Também é uma maneira de sobreviver, mas estou a fazer uma coisa que gosto e há, de certa forma, um lado de recompensa e satisfação pessoal.
Claro que depois há uma luta constante, para conseguir ter os melhores preços, os melhores discos e estarem cá a tempo. Há um lado de trabalho sistemático, que tem de ser feito todos os dias.
Porque senão é impossível mantermo-nos à tona.
Os vinis novos podem ir de 10€ a 25€ enquanto pode encontrar vinis usados a partir de 2,50€. Com todos os géneros disponíveis e a possibilidade de ouvir antes de comprar, é assim que uma loja de discos se mantém há três anos num mercado cada vez mais complicado.
Louie Louie
Rua Nova da Trindade - 8-A (ao Chiado)
213472232
louielouie.lisboa@gmail.com
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