Duas cidades descaracterizadas. E que ‘competem’ pelo estatuto da mais violenta cidade da América Central. De duvidoso interesse turístico. Minguam os edifícios históricos. Não abundam bares e restaurantes de ‘bom gosto’. Não se sente segurança nas ruas.

Recebidos por chuva em Tegucigalpa. Vamos procurar Tica Bus, empresa “moderna” que liga as capitais e principais cidades do Istmo. Resolvido o bilhete do Zé Luís até San Jose da Costa Rica, pensaríamos na estadia. Assim foi. Nem a 200 metros do transporte.

O autocarro até ao centro da cidade mostrou-nos muita miséria. Pobreza. Lixo. Um sem número de pequenos comércios. E uma multidão, de todas as idades, a tentar fazer pela vida. De todas as formas possíveis. E imagináveis.  

Já no centro – que não o parece ser – um bom exemplo do país. Um restaurante de fast-food faz promoção natalícia. Quem trouxer um ‘coupon’ da empresa publicado na edição do dia de um jornal hondurenho teria direito a um menu grátis. Com apenas um pedaço de frango. A fila dava voltas e voltas. Seguranças armados na entrada do estabelecimento. Romaria que durou até depois de abandonarmos o centro.

Num diversificado mercado central, experimentamos varias iguarias. Todas deliciosas. Especialmente as enchiladas. E os doces. E os sumos em saco plástico. Ou a curiosa sandes de manteiga, feijão e ovo. Um lanche que praticamente serviu de jantar.

A partir das 19:00 já não tínhamos autocarro urbano de regresso ao hostel. Desaconselham-nos andar a pé. Indicam-nos um transporte “rápido e seguro”.

Na manha seguinte, acompanhamos o Zé Luís até Manágua. É melhor assim. Trata-se de uma cidade dura e não o queremos só. A viagem do Tica Bus é para esquecer. Uma seca. Não se passa nada. Apenas turistas e alguns locais de melhores posses. Falta o colorido e o imprevisto dos “chicken bus”. Prometemos não repetir.

Quando o Tica Bus chega ao terminal da capital da Nicarágua, difícil não reparar na quantidade de seguranças armados no recinto. E zonas do recinto com arame farpado. Poderia ser cenário de guerra. A empresa gere, no interior do terminal, um pequeno hotel. Onde muitos dos viajantes se refugiam.

Recolhemos bagagens. Preferimos sair do edifício. Uma multidão sugere-nos estadia. E outra quer levar-nos de táxi. Ficaremos a 200 metros, depois de vistoriar vários locais. Nenhum deles demasiado católico.

Sílvio é o nosso anfitrião. Nem sequer nos deseja ver sair para jantar. “É só virar para a rua ao lado, mas nem isso é seguro aqui”, avisa. “Não aceitem qualquer convite ou sugestão. Limitem-se a seguir caminho”, acrescenta.

Uma bela jovem que promovia o estabelecimento - sentada à porta do mesmo, fixava o belo olhar nos viajantes acidentais - ajuda ao negócio. É quem recebe o nosso dinheiro. Diz o seu nome. É cumprimentada pelo trio. Um elemento mais incauto, esquecendo onde está, simula um cortês beijo na mão da donzela. Pergunta-se a Sílvio se é a sua filha. “É minha nora”, foi a resposta seca.

Engolir em seco e seguir caminho. Há lugares em que as ‘distracções’ podem sair caras.

Ao jantar ouvem-se foguetes. É dia santo. A senhora que nos serve conta que na véspera, aproveitando esse mesmo barulho festivo, foram assassinados três policias. A “patroa” atira-lhe um forte olhar reprovador. Manda-a calar. Conversa subitamente interrompida.

Regressamos ao hostel. Estamos demasiado cansados destes últimos dias em viagem. Não há muita vontade de descobrir Manágua by night.

Eu e Carlos seguiremos viagem na manhã seguinte. Às 07:00. Meia hora antes, em plena rua que começa a ganhar vida, despedimo-nos do Zé Luís. A esta hora, estará a chegar a Portugal. Desde que em Setembro o levei à Colômbia que anda a passear pelo Novo Mundo. É hora de voltar a casa.

Boa viagem, companheiro!

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Comentário de www.bornfreee.com em 11 Janeiro 2012 às 13:08

Olá Ana. O meu nome é Rui. E poderás saber mais sobre mim em www.bornfreee.com. Não houve viagem alguma da qual me tivesse arrependido. Gosto de todas as experiências. Preferencialmente as mais "caóticas". Mais sei que boa parte das pessoas prefere outro estilo. Ainda assim, procuro ser objetivo naquilo que vou experienciando. El Salvador foi surpresa muito agradável. Principalmente em Suchitoto. E encontrei aí hospitalidade que não senti nem em Tegucigalpa (Honduras) ou Manágua (Nicarágua). Boas viagens!

Comentário de Ana Pinheiro em 11 Janeiro 2012 às 11:09

Olá... Bornfreee?... viajei até El Salvador há mais de 10 anos e reconheço esta mesma sensação de nos quererem "escudar" a toda a hora. Mesmo assim, não me arrependo nem por um segundo de ter viajado para esta zona do mundo onde tudo é tão diferente mas a hospitalidade é imensa.

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