VIAGENS (lá fora): Os meninos da Ilha de Moçambique

Conhecida como a pérola do Índico, impunha-se uma visita não só turística, mas principalmente histórica.

Assim sendo, tomámos coragem e rumámos ao norte de Moçambique, mais precisamente à Ilha de Moçambique.


Localizada no Norte do País, tem como limites a Norte as Províncias de Cabo Delgado e Niassa, a Sul e a Oeste a Zambézia e a Leste o Oceano Índico.

Fomos recebidos com grande alarido...

Um grupo de meninos corria atrás do chapa (nosso machimbombo) e gritava de contentamento.


Insistentes e de volta do chapa, esperavam ansiosos que se abrisse a porta deste, e sorridentes miravam-nos com olhar feliz.

Saímos e não nos largaram mais.

Queriam ser os nossos guias e mostrar a bela Ilha onde tinham nascido.

Mais tarde, percebi que era o grupo dos “balda”, apesar de muito espertos, não frequentavam a escola.

Soube toda a história da Ilha através de Carlos, um menino de 9 anos. Um autêntico profissional. 

Fascinado pela sua Ilha, encaminhava a nossa visita, por entre as ruas típicas não alcatroadas, enquanto contava os factos mais marcantes.

 

 

A ilha de Moçambique tem cerca de 3km de comprimento e uma largura máxima de 600 metros.


O meio de transporte é simples: andar a pé.


Pode-se ver tudo o que interessa em ritmo de passeio.

Este pedaço de terra, outrora importante, no meio do mar não esconde o interesse que teve e a cobiça que despertou em muitos povos do mundo.


Foi na Ilha de Moçambique que, em 1498, aportaram os navegadores portugueses e tornaram a Ilha num ponto estratégico, a partir do qual, iniciaram a expansão para outras regiões do País. Para o efeito construíram a fortaleza de São Sebastião e uma feitoria.

A ilha de Moçambique é hoje considerada um património da humanidade. Nela se cruzaram e se fixaram culturas de muitos povos; na sua arquitectura lê-se a geografia do mundo desde a Arábia à Pérsia, da índia à China.


Claro que a Europa está também bem patente, através da presença portuguesa de cinco séculos. Por isso, nada tem de estranho vermos numa rua, olhando as ondas do Indico por ele tão conhecidas, o vulto do maior poeta de língua portuguesa: Luís de Camões.


Camões viveu dois anos na Ilha. Dizem os historiadores, que aqui trabalhou muitos versos da sua epopeia "Os Lusíadas".

Da presença portuguesa na Ilha de Moçambique salientam-se obras como a Fortaleza de S. Sebastião, o Forte de S. Lourenço, o Fortim de Santo António, a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, o Palácio e a Capela de S. Paulo, a Igreja da Misericórdia, o Convento de S. Domingos, a Igreja de Nossa Senhora da Saúde, o Hospital, entre outros.

Lugar de encontro de culturas, povos e religiões diferentes, a Ilha de Moçambique tem uma dimensão multicultural que é a sua marca identitária mais forte. Essa circunstância, a que se adiciona a sobrevivência de um importante legado arquitectónico português, proporciona à Ilha de Moçambique um estatuto único em toda a África Oriental.


Para comprar
As melhores peças à venda têm a sua matéria-prima "produzida" pelo mar. Falo das jóias feitas com a prata de moedas antigas provenientes de navios naufragados que as marés trazem para a ilha, abundantemente, pelo que vimos. Os artesãos locais conseguem fazer pequenas obras de arte com os despojos das naus da carreira das Índias. Há colares, pulseiras e cintos muito bonitos. Podem-se comprar moedas portuguesas de prata e de bronze aos miúdos que as vendem na rua. Também se podem comprar colares e pulseiras feitos com conchas, corais e com as chamadas "missangas do mar", missangas que alegadamente se encontravam a bordo de um navio árabe que passava ao largo da fortaleza e que os portugueses afundaram.


Onde comer
O restaurante Relíquia, perto do Palácio-Museu de S. Paulo. O Relíquia tem um decor interior interessante e um menu com pratos suficientemente exóticos.

 

A esplanada do Relíquia, com as mesas rústicas de madeira, virada para o mar, é um sítio perfeito para apreciar o pôr-do-sol.

 

Enquanto aqui almoçávamos ... Carlos, o pequeno guia, apareceu com alguns búzios que tinha ido apanhar no fundo do mar para me oferecer ... Fiquei sensibilizada! 

No regresso, um percalço …


Ficámos atolados em lamas de África.


De repente, aparecidos não sei de onde, miúdos corriam para ir pedir ajuda aos locais para nos tirar dali.

As mulheres com baldes à cabeça tinham a simpatia estampada no rosto.

Algumas de rosto pintado de branco (como tinha visto na Ilha).

No Norte de Moçambique e principalmente na Ilha de Moçambique, as mulheres usam diariamente uma pasta branca no rosto, uma máscara de beleza natural, o muciro, que se obtém raspando com inchauri, uma pedra de origem marinha, o caule perfumado da árvore com o mesmo nome, ao qual se junta umas gotas de água até formar uma pasta.

Os miúdos mostravam os brinquedos, construídos por eles, o peixe que habilmente tinham pescado, e uma vez mais, e à semelhança dos outros meninos da Ilha, como eram meninos especiais.

Ainda hoje recordo, com saudade, os meninos de Moçambique.

 

 

 

 

Exibições: 3838

Adicione um comentário

Você tem de ser membro de MyGuide para adicionar comentários!

Entrar em MyGuide

Comentário de Maria Costa Domingues em 11 Junho 2011 às 23:16
Apesar de não frequentarem a escola, sabiam a história da Ilha com todos os pormenores e factos. A mim, foi Carlos quem a foi contando, pessoalmente, sempre de riso rasgado e contagiante.
Comentário de Inês Delgado em 11 Junho 2011 às 23:12
E o grupo dos "balda", conhecia bem a história da sua ilha?
Comentário de Maria Costa Domingues em 11 Junho 2011 às 23:08
Foi uma recepção em apoteose. Os miúdos eram o máximo, Carlos era encantador.
Comentário de Inês Delgado em 11 Junho 2011 às 23:04
Fiquei encantada com a pérola do Índico! Deve ter sido magnífico sentir aquela recepção, não Maria?
Comentário de Maria Costa Domingues em 11 Junho 2011 às 12:45
Obrigada, Pedro. Realmente é uma pena não teres ido à Ilha de Moçambique, lugar tão cheio de riqueza cultural e histórica. Não sei quando, mas pretendo lá voltar.
Comentário de Pedro Castanheira em 11 Junho 2011 às 11:08

Vivi 4 anos em Maputo, e por uma razão, ou por outra, não  consegui chegar à Ilha de Moçambique, o mais próximo que estive foi em Pómene, mais ou menos a cerca de 100 km da ilha. Tudo o que sei dela é das conversa entre amigos, da literatura disponível e de milhares de fotografias já vistas sobre a ilha. Talvez um dia, nunca se sabe.

Quanto à descrição é a África que eu conheço.

Parabéns pela viagem

Comentário de Maria Costa Domingues em 10 Junho 2011 às 23:47
Normalmente são os percalços que mais tarde recordamos e que alimentam as histórias.
Comentário de Maria Costa Domingues em 10 Junho 2011 às 23:45
E foi com orgulho que Carlos nos levou a ver a estátua de Luis de Camões e o apresentou como o  - "GRANDE POETA" - e disse-o com ar teatral.
Comentário de Pedro Azevedo em 10 Junho 2011 às 22:22
Concordo Maria. Viagem sem percalços não é o mesmo.
Comentário de Pedro Azevedo em 10 Junho 2011 às 22:17

É bom ver Camões na iIha de Moçambique a representar terras lusas.

COMUNIDADE MYGUIDE

O Myguide.pt é uma comunidade de Viagens, Lazer e Cultura.

Regista-te e publica artigos, eventos, fotos, videos e muito mais.

Sabe tudo sobre o Myguide aqui

Editores em destaque

EM DESTAQUE

Eventos em Destaque

Abril 2024
DSTQQSS
123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930
       

Notícias

Aulas regulares (e para todos) no Museu do Oriente

Criado por MyGuide 5 Jan 2021 at 10:16. Actualizado pela última vez por MyGuide 5. Jan, 2021.

Pintar como os grandes

Criado por Agenda MyGuide 24 Nov 2020 at 18:30. Actualizado pela última vez por Agenda MyGuide 24. Nov, 2020.

É um restaurante?

Criado por Agenda MyGuide 9 Nov 2020 at 11:32. Actualizado pela última vez por Agenda MyGuide 9. Nov, 2020.

© 2024   Criado por MyGuide S.A. Livro de reclamações   Ativado por

Crachás  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço