É novembro e anoitece cedo. A meio da tarde o sol começa a baixar e obriga-nos a andar de mão em pala sobre os olhos, contrariados, para quê esta intensidade se andamos cheios de roupa e daqui a pouco é de noite e só o cheiro das castanhas assadas nos salva das saudades do verão?

Eu digo-lhes. O sol de novembro brilha para os gatos de Lisboa. Para os bichanos pimpões e urbanos, de lugar cativo atrás das janelas, amodorrados entre a vidraça e a cortina de renda que desenha bordados no chão das casas. Entre magras moscas invernais e espreguiçadelas épicas, os felinos alfacinhas deixam-se mimar pelos

donos do lado de dentro e por quem passa do lado de fora. Até se dão ao luxo de fingir ignorar um piropo ou outro, com ar de quem não dá confiança a qualquer um. Mas, no dia seguinte, assim que o sol da tarde incendeia os vidros, lá estão eles no peitoril, nem um pelo fora do sítio, nem uma remela, prontos para mais uma tarde de homenagens do astro-rei e dos plebeus que passam.

Há quem diga que dão azar (toc toc toc). Há quem diga que são ruins os gatos, por prezarem aquilo que todos nós ambicionamos: um espaço e um tempo próprios. Gatos e gente independente sempre aterrorizaram as mentes pequenas.

Eu confirmo. Os gatos de Lisboa são mágicos, em novembro mais do que nunca. Sorte de quem se cruza com eles.

Podem acreditar em mim, juro pela minha vassoura voadora.