PASSEIOS (cá dentro): João "Ratão" metido em assados na Caldeira do Faial

Já estava há uns dias no Faial quando, num fim de tarde regado com o Gin especial do Peter, um amigo ilhéu me desafiou para o acompanhar numa expedição a um local especial. Em estado selvagem, dizia ele, o que não me pareceu difícil, já que estávamos nos Açores, ilhas de beleza já de si selvagem.

Levantámo-nos cedinho e seguimos, só homens de barba rija, rumo ao interior da ilha. Pelo caminho, ladeado de belas hortênsias, fui ouvindo, interessado, que a área central do Faial é uma imensa cratera de um vulcão adormecido, selvagem e intocada pelo homem, de tal forma que foi convertida em Reserva Natural e Zona de Protecção Especial. Chamam-lhe a Caldeira.

Chegados ao local,  percorri ansioso um pequeno túnel até ao miradouro onde planeava debruçar-me sobre os 400 metros de profundidade e 2000 de diâmetro da majestosa cratera.

Que visão! Em vez de contemplar as encostas verdejantes cobertas de floresta laurissilva, a vegetação primitiva da ilha, que me tinham prometido, esbarrei numa “parede” de nevoeiro tão denso que lhe sentíamos a textura húmida.

Após o desapontamento inicial, aguardámos que levantasse.  Sentíamos a falta de um agasalho e batíamos o dente, mas já devíamos saber que o tempo nos Açores é imprevisível e que não se sai para nenhuma caminhada em “corpinho bem feito”. Eu, que pensava que me ia meter em assados na caldeira, à semelhança do que aconteceu ao meu homónimo roedor quando se chegou ao caldeirão, estava agora gelado e bem gelado!

Mas todos os problemas fossem esse! A nossa expedição estava difícil de se concretizar.

O percurso de três horas à volta da cratera segue sempre na crista do abismo, com vistas vertiginosas para dentro e para fora, e por isso desaconselha-se em tempo instável ou nevoeiros como aquele, que parece que são frequentes..

E descer à caldeira, pode-se?, perguntei para ver se não ficávamos ali parados. Pior ainda. Não só é perigoso como até é proibido, disseram-me logo, pelo menos sem a companhia de um guia do Parque Natural do Faial. As encostas são escorregadias e o fundo verdejante esconde crateras mais pequenas e até uma pequena lagoa, mas o pior é mesmo o terreno, que é tão pantanoso que não se pode parar muito tempo, sob pena de nos enterrarmos até aos joelhos.

Ainda a pensar no "João Ratão" afastei-me da borda do caldeirão!

Mas estas fotos, dão vontade, não dão?

É preciso não esquecer que esta é uma zona que ainda não há muito tempo revelou alguns sinais de actividade vulcânica, aquando da famosa erupção dos Capelinhos, em 1958, e que sofreu alguns desmoronamentos de terras no terramoto de 1998.

Não tivemos outro remédio senão voltar para trás e tentar noutro dia.  Parámos pelo caminho para comer uma bela massa sovada e não demos o dia por perdido.

Acabei por fazer o percurso da Caldeira do Faial dois dias mais tarde, mas esqueci-me da máquina fotográfica no carro. Assim, aqui ficam fotos que “roubei” aqui e ali e ainda "acoli",  para verem como é bonita a Caldeira (e para o artigo não ficar sem piada nenhuma.)

Termino dizendo que é um percurso pouco exigente mas demorado, não muito bem demarcado em certos pontos, mas  impossível de nos induzir em erro.

A vista é uma coisa do outro mundo. Natureza em estado puro para onde quer que nos viremos. vistas de mar, encostas cobertas de hortênsias azuis. Um verdadeiro bilhete postal dos Faial, que é por isto conhecida como “a ilha azul”!

Vale a pena!

Quem, como eu, ficar com pena de não poder explorar o fundo, podem vê-lo e saber mais sobre a caldeira através dos olhos de quem já lá foi e estuda este tipo de ambientes.

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Comentário de Inês Sousa Almeida em 11 Julho 2011 às 15:07

É que eu fui no âmbito de uma colónia de férias e tínhamos de ir juntos, não dava para parar.

Era quase passo rápido, o que torna muito fácil escorregar na lama e dar o rabiosque às silvas, que foi o que me aconteceu!

Infelizmente, só no dia seguinte é que fui ao gin, senão talvez fosse mais fácil.

Comentário de João Neves em 11 Julho 2011 às 15:02
Inês, a meio da descida também foi um bocado complicado, mas associei isso talvez ainda ao efeito do Gin no sangue :)
Comentário de Inês Sousa Almeida em 11 Julho 2011 às 13:20

Eu desci a Caldeira. Nem sei se foi pior subir ou descer. Lama, silvas, picos, trambolhões. Foi o que retive da viagem. Ah, e uma vista fenomenal ;)

 

 

Comentário de Tânia Barreira em 11 Julho 2011 às 11:37
lindissimo! :)
Comentário de João Neves em 9 Julho 2011 às 12:21
Mais uma vez, obrigado a todos :)
Comentário de Sandra Gomes em 8 Julho 2011 às 17:49

Excelente proposta. :)

E num ilha que me diz muito. :)

Comentário de Maria Inês Simões em 8 Julho 2011 às 17:39
Muito bom João! Dá vontade de voltar aos Açores. Já lá vão uns anitos. :)
Comentário de Ana Tomasi em 8 Julho 2011 às 11:55
Parece Portugal, sim, João! E gostei do teu artigo. :)
Comentário de João Neves em 8 Julho 2011 às 10:04

Obrigado pelos elogios.

Pedro, vale mesmo a pena. É fácil esquecer-mo-nos que estamos em Portugal. E nos dias que correm isso até é bom :)

Comentário de João Neves em 8 Julho 2011 às 10:01
Joana, aqui já deves ter alguma escolha. O Fayal Resort Hotel é uma boa escolha.

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