As minhas primeiras lembranças da história de Portugal rezam assim: Primeiro estavam cá os celtas e depois vieram os Iberos. Os dois fundiram-se e formaram os Lusitanos, que tinham como líder um tal de Viriato. Em seguida, os romanos, que os derrotaram. Era de simpatizar com os romanos ou não? A minha professora dizia que sim, mas eu não queria dar o braço a torcer.
Também não fazia mal porque logo a seguir apareceram os bárbaros e lá se foi a Pax Romana, e depois destes, os árabes, que apanharam toda a Península com excepção das terras altas acima do Douro. E ainda bem para nós, pois foi dessas terras altas que partiu a reconquista cristã e foi aí que se distingiu um certo cavaleiro francês chamado Henrique. Em 1103, o poderoso rei Afonso VI de Castilla y Léon decidiu recompensá-lo com um título, umas terras e a mão da sua querida filha Teresa. O feliz casal viveu feliz no Condado Portucalense e, em sinal de gratidão, até baptizou o rebento com o nome do avô, Afonso e do pai, Henriques.
Foi então que a coisa começou a correr mal. Já orfão de pai, Afonso Henriques desentendeu-se com o avô e com a mãe. Qualquer coisa sobre não querer ser castelhano e desejar fundar uma nação só dele. Batalha puxa batalha, confusões entre mãe e filho, a única coisa de que me lembro bem é de fixar:
Rei de Leão – inimigo. Castela- Inimigo. Espanhóis – maus. Portugueses – bons.
Partilhei desta opinião inconscientemente durante muito tempo, mas calhou ter conhecido recentemente um dos inimigos. E um verdadeiro León(ino), por sinal, que tão bem me falou da sua cidade e da sua história, que achei que já estava mais do que na altura de perdoar os castelhanos e ir conhecer a terra do avô de todos os portugueses. É que já lá vão uns séculos.
A pé por Léon
Não me arrependi, é uma cidade com uma atmosfera muito particular, bonita ao estilo de Salamanca mas mais moderna, com menos imponência, turismo e confusão. Anda-se bem a pé para todo o lado.
Fiquei alojado num hostal perto da Catedral, ruidoso e com uma cama que chiava só de olhar para ela, mas tão bem situado que foi só deixar as malas e partir a explorar a zona histórica.
De repente estava a passar por um edifício do Gaudi. Só por isto já vale a pena. Tão diferente do seu estilo habitual de Barcelona.
O Hospital Medieval de San Marcos para os peregrinos do Caminho de Santiago, hoje convertido em Parador Nacional, foi a minha segunda paragem. Os baixos relevos de um gótico tardio ao estilo “Plateresco”, um equivalente temporal e estilístico do nosso “Manuelino” são impressionantes.
A próxima paragem foi nas margens do rio Bernesga, onde alguns canoístas se divertiam. Jardins agradáveis, cheios de pássaros e o vislumbre de uma Léon mais moderna, na outra margem.
Debaixo de uma chuva súbita refugiámo-nos no fantástico claustro do Mosteiro de San Isidoro e, aproveitámos o aguaceiro para ver os seus famosos códices e frescos românicos com cenas bíblicas. Perdi algum tempo a tentar decifrar as inscrições dos túmulos no claustro (um hobby sem grande sucesso) e descobri, para meu agrado, o túmulo de Doña Urraca, ilustre tia do nosso primeiro rei. Também descobri interessantes vestígios da passagem pela cidade da Legio VII Gemina, a guarnição romana local.
Já sem chuva mas debaixo de algumas nuvens, dirigi-me para a catedral, impressionante, e apesar de estar pouco sol não pude deixar ver a maravilhosa rosácea de vitral no seu maior esplendor.
El Barrio Húmedo
É impossível ter sede em Léon, ou não se chamásse o seu equivalente ao nosso Bairro Alto, El Barrio Húmedo – o Bairro Húmido. Foi para lá que me dirigi para um copo antes do jantar e onde me deixei ficar, a saborear aquele ambiente espanhol de fim de tarde, cheio de gente “sempre em festa”.
Para jantar, o meu amigo castelhano tinha-me recomendado “El Miche”, mas este restaurante estava cheio e as mesas da esplanada todas molhadas da chuva. Assim, fiquei-me pelo “La Mazmorra”, muito mais sugestivo de nome, e mandei vir as também recomendadas “morcillas”. Para um prato de composição quase idêntica às nossas morcelas, pareceu-me excelente. Regadas com bom vinho e acompanhadas com batatas bravas, foram-se num instante.
Depois do jantar, mais um copo na Plaza Mayor, que é tão agradável como as Plazas Mayores costumam ser, e mais tarde, a caminho do hostal, um passeio vagaroso pelas ruelas antigas, muito ao estilo do nosso Bairro Alto, deu a minha visita por terminada.
Nota: artigo publicado em 2011
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Já estive à cerca de 3 anos na pousada de Leon, um parador nacional, e apesar de visualmente ser muito interessante, do ponto de vista prático deixa muito a desejar. Qualquer uma das nossas pousadas o bate aos pontos.
Já a cidade é muito bonita, e as noites no bairro alto deles são muito, muito loucas :)
Muito bom o artigo joão!!
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