Quando se pensa no Brasil as imagens que vêm à mente são de Carnaval e de violência. Um Carnaval de marchas grandiosas desfilando pelas avenidas das grandes metrópoles e o borrão da violência, generalizada e gratuita, espalhando a escuridão sobre a paisagem ensolarada.
Esta é a imagem que os meios de comunicação social passam para os europeus já de si medrosos e acomodados à sua vidinha envolta em algodão em rama.
Quanto de verdade há nesta imagem que nos vendem? Quanto de mentira ou distorção da realidade? Com que fito? Qual a vantagem?
A dualidade da violência mesclada com a permissividade de uma sociedade que passa a imagem de um povo alienado e focado no prazer imediato e no meio mais fácil de a ele chegar será realidade ou mito? E porque é que os meios de comunicação social passam tal imagem?
O mundo desenvolvido, vidé Europa, vive enquistado numa realidade própria e em pressupostos que toma como certos para o restante do mundo. Ao sair dessa concha é confrontado com uma realidade que não sabe “ler”, onde não consegue sobreviver sem deixar de lado toda essa carga de ilusões.
Quando o avião, esse casulo, extensão da sociedade desenvolvida, começa a descer sobre o Brasil a primeira imagem que o turista europeu tem já é desafiadora. As favelas, com os seus barracos e casas sem reboco se encavalitando nos morros, mirando o abismo das encostas, desafiando a gravidade, co-existem, num equilibrio precário, com os arranha-céus e as avenidas largas da parte “boa” da cidade.
É nessa altura que as agências de viagens, interessadas em atrair este público e o seu dinheiro, atuam de imediato impondo uma barreira. Elas sabem que os seus clientes são frágeis e, na maior parte das vezes, incapazes de assimilar a diferença. Por isso os arrebanham para dentro dos autocarros de luxo com vidros fumados, e, numa correria, os enfiam dentro dos seus quartos de hotel europeizados, com ar condicionado, piscina e vista do mar em frente.
Entretanto a realidade fica lá fora, asseticamente isolada.
As agências de viagem e os media atuam em conjunto, dentro do mesmo paradigma, e não lhes convém, nem a uns nem às outras, alterar o “status quo”.
É bom para o lucro das agências de viagem encapsular os turistas e “obrigá-los” a aceitar os hoteis de luxo e as suas viagens guiadas. A imagem de violência generalizada e gratuita, repassada pelos media, ajuda ao negócio.
O Carnaval, no Brasil, é uma fonte importantíssima de receita para o estado. Só com turistas endinheirados gastando muito e bem é que essa indústria (que o é) sobrevive.
Mas será que o povo brasileiro realmente ganha mais com essa imagem que é veiculada?
O povo que labuta o seu dia a dia, que trabalha de sol a sol, que precisa de ter dois empregos para sobreviver, esse povo que é vilipendiado pela comunicação social, que é reduzido à condição de bandido ou miserável alienado pelo samba e pelo futebol?
Quem ganha? Quem perde?
O Brasil é um país imenso, com uma superfície que dobra a da União Europeia, com assimetrias incríveis e com uma população dispersa por esse território (menos de metade da população da Europa, com apenas 22 habitantes por Km 2) que luta, dia a dia, para evoluir. Com distâncias enormes a separar as povoações, o esforço da comunicação e do desenvolvimento local torna-se muito mais difícil. A educação precária de grande parte dessa população também é um desafio e um óbice.
Seria mais útil para as populações locais apostar num turismo de proximidade, num turismo sustentável, onde quem se desloca se envolve com a população autóctone e aprende uma nova vivência que lhe alarga os horizontes. Seria também mais útil para o turista que, ao se misturar com uma sociedade que vive com dificuldades para ele inimagináveis, iria ganhar em cultura, uma verdadeira cultura, fruto da sua experiência e não do que outros lhe contam.
A sociedade atual necessita urgentemente de um novo paradigma. O que a televisão, os jornais e revistas veiculam não é mais a verdade mas a consequência de agendas ocultas, de jogadas políticas ou económicas.
O choque cultural que os turistas europeus iriam sofrer ao contatarem com casas de construção precária, com a falta de saneamento básico e de água potável em muitas habitações, com estradas de terra batida e com abastecimentos alimentares deficientes na conservação pelo frio, iria consciencializar esses mesmos turistas para uma maior compreensão de uma sociedade que luta para se afirmar e para sair da pobreza.
É uma mentira falaciosa que todo o Brasil conviva com uma taxa de criminalidade brutal. Isso pode ser verdade para as grandes metrópoles mas não para todo o país. E, contudo, mesmo uma mega metrópole como S. Paulo que alberga mais de 10 milhões de habitantes em cerca de 1500 m2 viu a sua taxa de criminalidade descer mais de 70% nos últimos 10 anos.
Mas nas pequenas povoações (cidadezinhas de 10 a 30 000 habitantes) ainda se pode deixar a porta de casa aberta ou a chave do carro na ignição. E essas povoações, embora modestas na sua vivência do dia a dia, com seus habitantes de calções e chinelo de dedo, acabam tendo uma atração muito própria para o turista. Muitas delas se situam em áreas ainda virgens do contato pernicioso do turismo de massas.
Algumas destas pequenas povoações situam-se num litoral de praias extensas quase desertas, bordejadas de coqueirais, com arribas donde se avista um mar imenso e paisagens explendorosas.
O paradigma está a mudar queiram ou não os grandes interesses económicos por trás do turismo “de rebanhos depredadores”. É só uma questão de tempo.
Talvez seja altura de as próprias populações tomarem na sua mão a gestão dos seus destinos e mostrarem que o turismo internacional oriundo dos países desenvolvidos pode, e deve, ser um motor de desenvolvimento sustentado e são para os povos que estão no caminho do desenvolvimento.
E quem sabe se esses povos não irão ensinar aos ditos desenvolvidos uma nova forma de interação entre culturas diferentes, uma forma baseada no respeito entre os povos e no respeito pela natureza.
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