48, de Susana de Sousa Dias, é um documentário sobre o Estado Novo e as vivências dos presos políticos da ditadura Salazarista. Depois de muitos prémios ganhos além fronteiras, Susana de Sousa Dias esteve dia 20 presente na Malaposta, para a ante-estreia da sua longa-metragem, que estreou em cinco salas de cinema ontem.

48 é 93 minutos de fotografias de cadastro oficial da PIDE/DGS. Uma cara, uma voz. Outra cara e outra voz, e mais uma e mais outra. Anos e anos de tortura e sofrimento. 48 não é só um documentário sobre o Estado Novo. Roubou-me todas as palavras. Agrediu-me emocionalmente. Atingiu-me de uma forma inexplicável. Cada pausa, cada soluço, daqueles que passaram por choques eléctricos, torturas do sono, abusos psicológicos, transportaram-me para um mundo obscuro. Verdades cruas, testemunhos de quem foi ao inferno e conseguiu voltar. Testemunhos da crueldade humana, testemunhos da pior forma que o homem pode assumir, ferindo o seu igual, muitas vezes, por mero prazer.

Quando as luzes do Auditório iluminaram o espaço, senti-me de rastos com a brutalidade de cada história. Apesar das vozes não terem qualquer sinal de rancor, não consegui acalmar a revolta perante os actos desumanos que cada uma daquelas vozes sofreu. Foi quase um acesso de fúria, uma incompreensão dos métodos usados para obter verdades. Durante 93 minutos a sala sofreu pelas Marias, Antónios e os Josés que por ali passaram. Durante 93 minutos demos as mãos por cada vítima do Estado Novo.

Susana de Sousa Dias trouxe ao de cima uma visão diferente sobre aquilo que foi, e transportou-nos para uma realidade que milhares de pessoas conheceram. Quando o projector parou, falou-nos ainda sobre os passos que teve de dar até conseguir realizar este documentário, e mais uma vez Portugal esteve aquém no apoio aos seus. O financiamento nacional foi nulo e apenas lá fora conseguiu reunir os meios necessários para criar esta obra de arte. Foi lá fora também onde foi reconhecida pelo seu mérito e só depois do aval dos estrangeiros é que conseguiu algum suporte nacional. Esperemos agora que esta longa-metragem soberba tenha a atenção devida da população portuguesa.