TENDÊNCIAS: Precisa-se urgente...um novo paradigma

Nesta Semana Santa de 2011, em que o Brasil se encontra em choque com os trágicos acontecimentos que levaram desta vida 12 crianças inocentes numa escola do Rio de Janeiro, todos nós devemos refletir, em profundidade, sobre o rumo que a sociedade, tornada uma “aldeia global” está tomando.

Uma sociedade em que os valores de amor e respeito pelo próximo são, a mais das vezes, preteridos em prol do lucro fácil ou da gratificação imediata de instintos básicos. Uma sociedade em que tudo o que de mal acontece, em qualquer cantinho ignoto, é veículado em questão de minutos pelo planeta inteiro e em que as ações altruistas, os momentos felizes e a alegria “não vendem”.

Ninguém pode dizer o que se passaria na cabeça da pessoa que perpretou tais atos. Todo o homem é uma ilha, isolado dos demais por uma parede de probabilidades, refém dos seus atos pretéritos, das suas convicções.

Mas também ninguém pode negar a força da sociedade, dos mitos urbanos, na construção de personalidades desgarradas. Esses personagens são, talvez, os mais fracos. Falhos da perspetiva consolidadora de uma educação baseada em valores mais altos, caiem na barbárie e na confusão veiculada, dia a dia, minuto a minuto, pelos media.

A sociedade atual, se a compararmos a um ser vivo, tem semelhanças assustadoras com um organismo dominado pelo cancro.

Senão vejamos: as antigas comunidades, pequenas aldeias em que todos se conheciam, foram substituídas por mega-metrópoles onde ninguém se comunica com o vizinho do lado; a livre interação de ideias entre os membros da aldeia, onde todos sabiam das más notícias e se consternavam com elas mas também das boas com que regozijavam, levando a um equilíbrio que mantinha a sanidade da população, foi substituída pelos media que se regem pelas leis da sociedade de consumo e do lucro. E esse lucro vem da atenção imediata, não da reflexão posterior.

Ninguém ainda parou para pensar que o que faz evoluir o ser humano não é a reação instantânea aos momentos catastróficos mas sim a reflexão posterior a eles.

A fixação imediata da atenção do ser humano nas catástrofes é uma reação instintiva básica de defesa. Para reagir em prol da defesa da sua vida, a atenção tem que ser ativada rapidamente.

Mas o que fez com que a humanidade evoluísse para além das sociedades animais foi a capacidade refletiva após esse momento de atenção. A reação animal básica perante uma ameaça é de lutar ou fugir. Essa reação mantém a vida e a perpetuação da espécie. O ser humano passou além dessa fase, inventando novas nuances dessa reação primal.

Toda a nossa sociedade é baseada em miríades de diferentes maneiras de lutar ou de fugir.

Levámos esse jogo ao limite e acabámos por transformar a fuga em paranóia, onde cada um se isola no meio de multidões, onde ninguém sabe de ninguém nem quer saber, uma fuga patológica que nos faz recrear as mesmas reações químicas. Por outro lado o nosso instinto de luta, numa sociedade onde já ninguém tem que lutar contra animais selvagens ou contra a inclemência da natureza levou a um outro tipo de paranóia, o voyerismo de situações limite onde indivíduos com que nos identificamos são atacados, violentados, mortos.

Vivemos num mundo de faz de conta onde, a cada minuto, tentamos, como um adicto de droga, chegar ao mesmo ponto de intensificação de reação psíquica daquelas reações primordiais que estão guardadas na nossa memória ancestral.

Este mecanismo, no final, leva a que indivíduos mais desestruturados dentro da sociedade sejam engolfados num redemoinho de emoções que não conseguem assimilar e levam à ação de luta real.

Com a comunicação global e instantânea no planeta o comportamento viral desses elementos desestruturados e isolados dentro da sociedade torna-se dia a dia mais perigosa e incontrolável. E não são as câmaras de vigilância a cada esquina, o Google places, os GPS nos telemóveis e nos automóveis e os satélites ou, numa forma mais paranóica,  os chips sub-cutâneos que vão evitar esses indivíduos de agir.

Esses meios fazem parte do problema, não da solução.

Enquanto continuarmos mergulhados na lama só poderemos ver lama. É preciso que um número significativo de seres humanos resolva, por sua própria iniciativa, limpar a lama dos olhos para que o restante da humanidade consiga ver o sol. Como Jung intuiu, o inconsciente coletivo da humanidade rege a evolução.  

E a solução só pode vir de um novo paradigma, de uma evolução do ser humano para além dos instintos primordiais de luta e fuga. A solução só pode vir de uma conscientização a nível individual porque é de indivíduos que, no final das contas, as sociedades se compõem.

E só a consciência individual, de um número significativo da população mundial, poderá arrastar consigo a consciência coletiva da espécie

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