"Após visitarem a Bulgária, se saírem de lá vivos, vão perder o medo a qualquer outra coisa"

A viagem a Sofia, Bulgária, que aproveitei para visitar durante o meu período em ERASMUS, foi sem dúvida, a mais emocionante de todas as que já vivi, do ponto de vista do medo e insegurança.
Tudo começou por volta das 23:30, hora em que tínhamos(eu, o meu amigo Cristiano e a minha recém-amiga alemã Dana) de partir da Estação de Salónica. Apressamo-nos e dirigimo-nos para a plataforma e a primeira visão do inferno foi o comboio que nos iria transportar até à Bulgária! Fez-me lembrar aqueles comboios dos filmes de terror onde toda a gente acaba morto ou cheio de duvidosas infecções cutâneas. Mas bom, sabem o que diz a sabedoria popular que não devemos julgar um livro pela sua capa e que o interior é que conta? Bem, essas pessoas, certamente, nunca foram em classe económica da Grécia para a Bulgária. O interior ainda era mais tenebroso. Cada cabine parecia uma pequena casa, onde todos os ocupantes se instalavam confortavelmente. Cabine a cabine, nós procurávamos uma onde soubéssemos que iríamos chegar com ambos os rins ao destino. Tivemos a imensa sorte de encontrar 3 simpáticos senhores que com a ajuda do pouco Russo que sei falar, entenderam que éramos apenas 3 estudantes que pretendíamos lugares onde nos fosse possível sentir minimamente seguros. Assim, a viagem correu sem grandes percalços.
Ás 6:30 chegamos a Sófia e um dos nossos "novos" amigos indicou-nos o caminho para o centro da cidade e lá fomos nós à aventura. O que nos saltou à vista em 1º lugar foram os inúmeros casinos e casas de jogo que inundam as ruas da capital. É de salientar também a enorme pobreza e degradação da maioria das casas e ruas, e os próprios transportes públicos, são quase do tempo da Pré-Revolução Industrial! Tentar olhar para o céu azul que começa a despontar no horizonte é também algo muito complicado por lá. São tantos, mas tantos fios de electricidade que "poluem" a cidade...Percorremos ruas e mais ruas, tiramos imensas fotos e a cada passo que dávamos mais sentíamos que realmente não pertencemos à Europa dos Balcãs! São países ainda com pouca história pessoal para contar e sente-se que ainda receiam o investimento e a chegada de estrangeiros, o que só os prejudica.
De entre imensas idas ao Mcdonald´s(já agora, há que dizer que a Bulgária é o único país do mundo que traduz o nome para alfabeto cirílico) para irmos não só à casa de banho, mas também procurar um lugar calmo para nos sentarmos e comer algo, visitamos o centro turístico da cidade que incluí edifícios verdadeiramente deslumbrantes como o Teatro, o Auditório e o Parlamento.


A determinada altura, decidimos ir comprar souvenirs a uma loja que se situa dentro dum enorme edifício, com uma fachada bastante moderna e comprovar se realmente o nível de vida Búlgaro é mesmo baixo. A moeda búlgara é LEV, e no câmbio funciona qualquer coisa como: por cada euro, recebemos 2 LEV. Na Bulgária podemos comer um saboroso gelado por 30 cêntimos, um Hamburger por 50 e podemos ainda comprar uma excelente casa, na melhor das zonas pela modesta quantia de 5 mil Euros, o que se a cidade fosse atractiva e menos perigosa, poderia mesmo vir a ser um excelente investimento. O problema é mesmo esse! As pessoas são muito desconfiadas, sente-se um enorme clima de tensão e insegurança no ar. As avenidas são largas, mas desorganizadas e confusas, e as ruas secundárias sujas e cheias de pequenas lojas de produtos duvidosos. A língua inglesa é absolutamente desconhecida e aconselho vivamente a se algum dos leitores estiver a pensar ir à Bulgária, a aprender pelo menos o básico da língua russa. Foi através dela que conseguimos reconhecer monumentos e ruas, já que tudo está em alfabeto cirílico e as pessoas, bem...não vale mesmo a pena tentar pedir informações. Para terem uma ideia, estivemos cerca de 1 hora a andar por toda a cidade à procura dum mercado para comprar água, e só encontramos quando cruzamos a linha do que é minimamente seguro na cidade. É tão difícil ser turista em Sofia...ficamos com a sensação que se pudessem, os búlgaros fechariam as fronteiras. No terminar do dia, encontramos por acaso, um Professor Norte-Americano que dava aulas de inglês para actores na Bulgária, e ainda ficamos a conversar cerca de 30 minutos e por entre algumas risadas e alguns assuntos mais sérios, algo que nós fixamos foi o facto de ter chamado Pequena Rússia à Bulgária. Interessante não?
Quando a noite ameaçava cair, fomos caminhando para a estação onde algumas horas de espera nos aguardavam, mas pelo menos estaríamos a salvo. À medida que o centro da cidade ia desaparecendo, a velha Bulgária vinha à superfície.
Finalmente na estação, sentamo-nos nos antigos bancos de metal à espera do anunciar do nosso comboio e até aí tivemos de usar o russo. O nome Salónica em cirílico muda completamente, e se não tivéssemos atentos, possivelmente teríamos perdido o comboio e não sei o que aconteceria se estivéssemos ali madrugada dentro...
O regresso foi calmo, a nossa cabine, tal como a maioria delas estava vazia e pudemos descansar um pouco, dado que mais de 48 horas se tinham passado desde que tínhamos dormido. E assim, tudo parecia apontar para uma viagem tranquila, mas não...desenganem-se! Estive para ficar preso na fronteira uma vez que não se acreditavam que era realmente português e tive de me dirigir acompanhado por 2 polícia gregos e explicar que era estudante ERASMUS em ATEI e mesmo assim, ainda chegaram a preencher uma ficha com o meu nome e com a nacionalidade iraniana... A sorte não me protege mesmo nas fronteiras...

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Comentário de Maria Costa Domingues em 2 Março 2011 às 14:16
Bruno o relato da tua aventura em Sofia parecia um guião para um filme de guerra.Quase que visualizei o trailer.Gostei muito.

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