O Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer celebra os 20 anos. De 16 a 24 de Setembro, o festival de cinema mais antigo de Lisboa vai exibir 114 filmes de 27 países, entre as duas salas do evento, o Cinema São Jorge e a Cinemateca Portuguesa, que vai receber a restrospetiva Jarman and the Last of England, dedicada ao realizador britânico Derek Jarman.

Abertura e Encerramento

O festival inicia com um filme que traz de volta duas personagens televisivas acarinhadas pela cultura queer: Eddy e Patsy, duas socialites londrinas narcísicas que vivem tudo em extravagância. Absolutely Fabulous – O Filme recupera a série de culto criada por Jennifer Saunders. Nesta aventura no cinema, as duas amigas vêm-se em fuga da polícia após deitarem Kate Moss ao rio Tamisa. Esta vai ser uma oportunidade única de ver o filme em sala, uma vez que não irá ter estreia comercial. O encerramento será de despedida redobrada: Looking, a série criada por Andrew Haigh, foi cancelada na segunda temporada, deixando em aberto o destino das suas personagens. Para atender aos desejos de desfecho dos fãs, os criadores decidiram embrulhar os fios narrativos num filme feito para televisão. Looking – O Filme, encerra o Queer Lisboa dia 24 de Setembro.

Competições

A secção de competição volta a mostrar a diversidade das temáticas queer e a contar histórias que vêm de todos os cantos geográficos e de realidades culturais e sociais distintas. Antes o Tempo não Acabava (de Sérgio Andrade e Fábio Baldo) mostra o despertar da sexualidade de um jovem indígena brasileiro; Awol (Deb Shoval) debruça-se sobre a experiência LGBT numa comunidade rural dos EUA; Barash (Michal Vinik) é a história do enamoramento de duas adolescentes israelenses; Kater (Händl Klaus) segue um casal vienense no quotidiano da sua relação, abalada por um momento de violência; Rara (Pepa San Martin) é um olhar sobre a família homoparental a partir da inocência de uma menina, que vive com a sua mãe e a sua companheira; um retrato de um coreano-americano, Spa Night (Andrew Ahn) parte do desejo para falar sobre o choque entre a vida íntima e as tradições sociais com a qual esta se confronta; também um olhar sobre o desejo, Taekwondo (Marco Berger & Martin Farina) tem como cenário a casa de férias onde um grupo de amigos livremente passam os seus dias; Théo et Hugo dans le même bateau (Olivier Ducastel & Jacques Martineau) é sobre o despontar do romance entre dois rapazes (um deles seropositivo), que estão passar a noite no hospital, após terem tido sexo desprotegido. Os realizadores Sérgio Andrade e Handl Klaus estarão presentes nas sessões dos seus filmes para os apresentar.

À semelhança da competição de longas-metragens de ficção, a secção de competição de Documentários apresenta oito títulos: Bolesno (Hrvoje Mabic), mostra como a patologização da homossexualidade ainda é uma realidade; Coming Out (Alden Peters) é um olhar na primeira pessoa sobre a saída do armário; Det Han Gjorde (Jonas Rasmussen), acompanha o quotidiano de Jen Schau, que aos 13 anos assassinou o seu companheiro e passou 10 anos preso num hospital psiquiátrico; Irrawaddy mon Amour (Valeria Testagrossa, Nicola Grignani, Andrea Zambelli) é sobre o desejo de casamento de dois rapazes numa Myanmar governada por uma ditadura militar e onde o casamento homossexual é proibido; Real Boy (Shaleece Haas) tem como protagonista um adolescente trangénero que navega pela sua auto-descoberta; The Sandwich Nazi (Lewis Bennett) é o retrato de Salam Kahlil, personagem extravagante com passado colorido e conversa a condizer; Tchindas (Pablo de Lara, Marc Serena), aflora a vivência queer em Cabo Verde a partir da figura acarinhada de Tchinda Andrade, que se assumiu transgénero publicamente em 1998 e cujo nome passou a ser sinónimo de uma comunidade; Waiting for B. (Paulo Cesar Toledo, Abigail Spindel) mostra como os fãs de Beyoncé vivem as semanas anteriores ao concerto, à espera junto à porta do recinto. Os realizadores deste último documentário, bem como a dupla responsável por Tchindas, estarão presentes no festival para apresentarem as suas obras.

Tal como o ano passado, a secção Queer Art volta a ser competitiva. Uma recriação dos bastidores de um clássico queer, Portrait of Jason, imagina o jogo de forças entre o retratado Jason e a retratista Shirley Clarke durante a gravação desse filme icónico, em Jason and Shirley; uma visão contemporânea da personagem bíblica Maria, numa fusão de performance, dança e surrealismo, em MA, ou ainda Trilogie de Nos Vies Défaites, um guia das relações contemporâneas entre as paisagens web, são três dos oito filmes a competição nesta secção mais experimental.

Espaço de acolhimento e revelação de novos talentos, o Festival irá apresentar trinca e cinco novas curtas-metragens em duas secções competitivas, sete das quais produzidas em Portugal. Também de curtas-metragens, todas com assinatura de António da Silva, figura recorrente do festival, se fará a sessão única de Hard Nights.

Panorama e Sessões Especiais

Mas não só de competição vive o Queer. A actriz e artista Susanne Sachsse teve carta-branca do festival, à qual respondeu com a escolha de dois títulos: The Raspberry Reich, de Bruce LaBruce, o qual protagonizou, e Salomè, de Carmelo Bene, filme experimental que adapta a peça homónima de Oscar Wilde.

Este ano volta o Panorama, onde irão ser exibidas propostas mais mainstream, algumas com distribuição comercial num futuro próximo: La Belle Saison, de Catherine Corsini, um romance entre duas mulheres ambientado na década de 70, cujas actrizes foram indicadas aos Césars (prémios da Academia Francesa de Cinema); Goat, de Andrew Neel, no qual um recém-chegado à faculdade se confronta com a realidade violenta das praxes e das fraternidades; Grandma, de Paul Weitz, sobre o reencontro entre uma jovem rapariga e a sua avó, recentemente separada da sua companheira; O Ninho, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, originalmente uma minisérie de televisão, e novamente uma exploração da adolescência queer (à semelhança da primeira longa-metragem da dupla, Beira Mar, mostrada o ano passado neste mesmo festival).

Destaque ainda, entre a programação de filmes no São Jorge, para a sessão especial de Yes, We Fuck, de Antonio Centeno e Raúl de la Morena, sobre a sexualidade de pessoas com deficiência.

Retrospetiva Derek Jarman and the Last of England

Um dos nomes de maior relevo do cinema queer do final do século, cenarista, activista, prolífico realizador de filmes nos mais diferentes formatos, dos videoclips às longas-metragens, passando pelas curtas-metragens, Derek Jarman será a figura tutelar dos 20 anos do Queer Lisboa. Em homenagem ao ecléctico realizador, o festival dedica-lhe uma ampla retrospectiva, “Jarman and the Last of England”, que inclui grande parte da sua produção e se estende ao seu círculo mais próximo. Realizador iconoclasta, interessado em reflexões arrojadas sobre passados e figuras históricas distantes (Eduardo II ou Isabel I apareceram na sua obra) ou sobre o seu presente (a Inglaterra de Tatcher e do punk), Jarman realizou 11 longas-metragens, oito das quais serão exibidas nesta retrospectiva, incluindo The Angelic Conversation, Edward II e Blue. Três sessões de curtas-metragens  filmadas  em Super 8, formato que Jarman utilizou de forma prolífica e ambiciosa, projecções de realizadores e outros artistas que com ele colaboraram ou privaram (John Maybury ou Cerith Wyn Evans), um debate e uma sessão de Queer Pop com os seus videoclips completam a programação desta abrangente homenagem.

Queer Pop

Por falar em Queer Pop, a juntar à sessão dedicada a Derek Jarman, com exibição de videoclips que o realizador fez para os Pet Shop Boys, The Smiths ou Patti Smith, este ano há mais duas, ambas dedicadas ao questionamento dos papéis femininos e masculinos e do conceito de género, a partir dos vídeos  de Freddie Mercury e de Annie Lennox.

Eventos Paralelos

Os eventos paralelos do festival incluem duas exposições. Uma composta por vários artistas desafiados a criar uma fotografia ilustrativa da irreverência do festival: António da Silva, Carlos Jgm, Rui Palma, Sara Rafael, Vanda Noronha e Vítor Serrano responderam à chamada e o resultado estará em exposição no São Jorge. Estendendo-se à arte contemporânea, em parceria com a galeria Oficina Irmãos Marques, o Queer organizou outra exposição, A Natureza da Margem, sobre as relações entre a sexualidade e a natureza.

Duas performances de Tales Frey e outra de André Murraças, 50. Orlando Ouve (no dia de abertura), em homenagem ao recente tiroteio na discoteca gay Pulse, terão lugar durante o festival. Bem como duas masterclasses, O Cinema Explícito – Obscenidades Cinematográficas, por Rodrigo Gerace e De Brecht a Bruce LaBruce e de Volta. Pronta para a minha próxima Autoexposição, da já referida convidada com carta-branca Susanne Sachsse.

A festa de abertura decorrerá no Club Fontória com música de Nuno Galopim e da dupla queriaSTARmorta. O festival encerra no Titanic Sur Mer ao som do duo Candy Fur e de Mário Valente.

Um mês depois, de 5 a 9 de Outubro, o Queer visita pela segunda vez o Porto, com programação diferente, entre a qual uma já anunciada retrospectiva do New Queer Cinema com a presença de um dos seus nomes mais destacados, o realizador Tom Kalin.

Toda a informação sobre o festival, aqui

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