GASTRONOMIA: Palácio Chiado, ao sabor dos tempos

Estamos em pleno Chiado, onde o som cosmopolita dos tuktuk, dos autocarros ao estilo londrino ou mesmo dos Gocar se mistura com os múltiplos rostos de todas as nacionalidades, que num estilo oitocentista “desfilam” em atividades constantes.

Descendo pela rua do Alecrim, mais concretamente até ao número 70, encontramos um antigo palácio, que discretamente nos convida a entrar. Sem destoar do ambiente que o envolve, num tom cinzento claro, o antigo Palácio Quintela é decorado apenas pelas suas varandas e janelas térreas de grades de ferro negro, que se juntam a duas lanternas antigas, uma de cada lado da porta principal,com faixas pretas que anunciam o nome atual do espaço: Palácio Chiado.

Mas engane-se quem acreditar nesta fachada de simplicidade, pois entramos num espaço de requinte e sofisticação, cheio de histórias para contar. Anteriormente sede do IADE, este palácio transporta-nos para uma dupla dimensão, onde a nossa imaginação nos leva ao século XVIII, e a realidade gastronómica nos faz aterrar no mais atual do nosso século.

Abrem-nos gentilmente a porta. Os porteiros estão de fato e todos os empregados usam o mesmo uniforme escuro. Entregam-nos um cartão de consumo, para que as questões de pagamento sejam tratadas apenas à saída. O primeiro contacto com o ambiente dá-se num espaço amplo, nas cores branco e preto, de arcadas em pedra e mesas simples, que são atendidas por um serviço de bar, que não só ocupa toda a extensão desta sala, como ainda serve todo o edifício. Ficámos tentados a beber algo deitados num enorme conjunto de colchões sobrepostos, que servem de assento no meio desta sala para uma descontração total. Mas continuamos pelo corredor frontal, ainda no mesmo piso, onde encontramos um pequeno espaço, que faz lembrar uma antiga cozinha, toda decorada por azulejos azuis e brancos.

Apesar de pequeno, situam-se aqui quatro diferentes restaurantes, um por canto da sala, decorados de forma rústica e acolhedora. Em bancadas de pedra e vitrinas de vidro encontram-se expostos os produtos, alguns colocados em cestos de verga, num toque de piquenique de primavera. Os vasos de plantas suspensos aumentam ainda mais este ar campestre. “Burgers&Feikes”, “Local Chiado”, “Meat Bar” e “Páteo do Palácio” são os nomes que ocupam esta sala, que a preços mais acessíveis convidam a experimentar sem medos as suas iguarias: hambúrgueres em forma de donut em pão de batata doce, cheesecake de manteiga de amendoim (sem trigo, lactose e açúcar refinado), croquetes de alheira ou carne da vazia com uma maturação de 30 dias.

Retornando à primeira sala, partimos para a escadaria que nos leva ao primeiro piso. É aqui que podemos dizer que a viagem, ao passado e à beleza do palácio, se inicia. Somos recebidos por um enorme vitral, em tons de amarelo, azul e vermelho, que desenha o brasão dos Quintela, família que não só reconstruiu este espaço em 1801, como também lhe deu o prestígio e a fama ao longo da história. Passado o primeiro lance, o deslumbre é ainda mais significativo. Uma escadaria dupla, com quatro belos candeeiros, de quatro braços cada, sobre um círculo de dragões, iluminam um enorme arco de entrada para a primeira sala deste novo piso. Dela só podemos ver um enorme leão alado em dourado, que suscita tanto a ideia de defesa do espaço, quanto nos remete para o culto pagão de Mitra, o deus solar em forma de leão com asas, símbolo de luz. E sem dúvida ele ilumina o espaço. São igualmente interessantes de observar os frescos, em tons pastel, que envolvem as paredes desta mesma escadaria retratando cenas mitológicas.

Enfrentando o “medo” entramos na sala do leão. A cargo do restaurante “Espumantaria do Mar” encontramos um espaço cercado de arcadas embutidas na parede que dão continuidade aos tons claros que vimos no espaço anterior. Os clientes são recebidos num balcão circular central, ou em sofás nos cantos redondos da sala, forrados em veludo verde-escuro. A ementa convida a ficar. Moderna, com pratos servidos cheios de requinte e visual apelativo, dignos da típica fotografia a partilhar com os amigos nas redes sociais. E melhor de tudo, a um preço máximo de 18€ o prato. Pedimos, para começar, ostras com espuma do mar. Sem dúvida uma entrada a experimentar. Numa pedra preta retangular, sobre montinhos de sal, três grandes ostras são servidas num visual contemporâneo, sob uma espuma de maracujá e algas. Um sabor de mar, marcante, onde o  gosto final de sal é sobreposto por um travo amargo de maracujá.

Mas não ficamos por aqui. Indo ao encontro do nome que é dado a este espaço, pedimos o gelado de espumante. Que na verdade é um espumante gelado. Em forma de bola, e decorado com pequenas flores que dão cor à sobremesa, é uma explosão de frescura, perfeita para “desenjoar” e quebrar o sabor final de qualquer outra comida que possa vir a experimentar neste palácio.

Prosseguindo a nossa visita, encontramos uma sala ampla, muito iluminada por várias janelas e de paredes cobertas por elaboradas pinturas. Até mesmo o teto vale a pena observar! Aqui apresenta-se o espaço gastronómico Delisbon, num contexto de produtos tradicionais portugueses. Queijos, presuntos, bolo de chocolate e torta de ginja e amêndoa são o que mais chamam à atenção. Um lugar dedicado a quem procura uma refeição informal, de pequenas experiências e intensos sabores do nosso país. Segundo o empregado que nos recebe, são sobretudo pequenos grupos de amigos que se juntam em torno do seu balcão para partilhar uma tábua de queijos e presuntos, preparada na hora, ao sabor de um bom vinho nacional.

Por fim entramos no último restaurante deste palácio, o Suchic, aclamado do outro lado do Tejo. De traços simples, tons quentes e linhas modernas na sua decoração, é iluminado não só pelas janelas de que dispõe, mas também pelo dourado dos tetos trabalhados. Uma hostess conduz-nos pelo espaço. Em conversa, ficamos a saber que o restaurante exige reserva, de modo a proporcionar ao cliente o tempo necessário para o máximo de experiências possíveis. Entre os pratos mais apreciados pelos seus visitantes encontram-se o Tom Yam By Miguel Laffan, uma sopa tailandesa com a assinatura do chef que lhe dá o nome, o Tataki de Atum e o Tuna Baozi, que remete ao conceito de streetfood chinesa por parecer uma espécie de prego. Os sabores orientais a testar são variados e diferentes do que é encontrado regularmente, sendo elaborados com grande delicadeza.

Segundo a nossa opinião seria interessante circular por todos os espaços na sua primeira visita, escolhendo uma entrada num lugar, um prato principal noutro e terminar num terceiro, não deixando de escolher um cocktail no bar central.

O Palácio Chiado, antigo palácio Quintela, foi um lugar que assumiu a expressão forrobodó, pelas inúmeras festas que o 2º barão de Quintela, 1º conde de Farrobo, um dos seus proprietários originais, proporcionava. Ainda anterior moradia do general Junot durante as invasões francesas, autor da expressão “à grande e à francesa”, este palácio volta a assumir a característica de refúgio e lugar de diversão perante uma cidade em constante movimento.

Aqui vive-se o charme, a elegância e a descontração, numa mistura de tempos e sabores. Deixe-se viajar, desfrute do seu tempo, este palácio aguarda a sua visita.

Maria Carlota Soares da Veiga

Palácio Chiado, Rua do Alecrim 70, 1200-018 Lisboa Portugal

Domingo a quarta das 12:00 às 24:00; quinta a sábado das 12:00 às 02:00

Telefone:(+351) 210 101 184

Email:geral@palaciochiado.pt

Site:http://palaciochiado.pt/

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