Nos arredores de Takayama, existem inúmeros pontos de interesse naturais e históricos. O hostel onde eu fiquei alojada organizava tours diários a alguns desses locais e, por sorte, no dia em que eu tive disponibilidade para ir num dos tours, o destino era precisamente Shirakawa-Go, uma aldeia classificada como património mundial da humanidade pela UNESCO, que eu queria muito visitar.
Um dos funcionários do hostel, o Kenji, conduzia os hóspedes de carro ao destino e pelo caminho fazia uns desvios para nos mostrar algumas maravilhas naturais da região: miradouros de cortar a respiração, cascatas, montanhas cobertas de árvores em cores outonais resplandecentes e rios turquesa.
Os hóspedes visitantes daquele dia eram apenas eu e um carteiro alpinista italiano que já tinha subido a quase todas as montanhas do mundo. Perto dele eu sentia-me uma perfeita turista amadora, especialmente quando ele contou como tinha escapado por um triz a uma erupção vulcânica na Indonésia. Parece que foi dado como morto até que apareceu dias mais tarde, coberto de cinzas vulcânicas e meio abalado mas inteiro. Foi graças a um vento que decidiu soprar na hora certa, que ele não foi engolido por uma nuvem piroclástica e ficado carbonizado. Perante as aventuras dele, as minhas não tinham qualquer comparação, por isso limitei-me a escutá-lo com atenção.
Finalmente o Kenji parou o carro numa espécie de terraço natural onde havia restaurantes e lojas de souvenirs. Disse-nos que fôssemos às traseiras ver o miradouro, com um sorriso matreiro. Percebemos que seria algo de grandioso e de facto quando vimos a paisagem, ficámos de boca aberta.
Aninhada num vale rodeado de montanhas, Shirakwa-Go costumava ficar isolada do resto do mundo durante meses, quando os acessos ao vale ficavam bloqueados pela neve. Hoje em dia, as modernas estruturas rodoviárias e os limpa neves garantem o acesso todo o ano, mas ainda assim é bem mais fácil visitá-la quando tudo está verde e o sol brilha.
O aspecto único e característico desta aldeia, são as suas casas de madeira com telhados de colmo, mantidas de acordo com as técnicas tradicionais. Os telhados têm que ser renovados a cada 20 anos e são preservados através do fumo da fogueira que se encontra no centro de cada casa. Estas casas não têm chaminé, pelo que o fumo se acumula junto ao tecto e vai saindo através do colmo, matando insectos, fungos e bactérias que poderiam acelerar a sua decomposição. O lado negativo é que o fumo e as fuligens também se espalham pelo resto da casa, afectando a saúde dos moradores. Eram comuns os problemas respiratórios nos habitantes deste tipo de casas, mas num ambiente tão agreste quanto o que eles enfrentavam no inverno, não havia outra forma de contornar o problema do frio e da preservação dos telhados, pelo que acabava por ser um mal menor.
Hoje em dia, a maioria destas casas já não são habitadas, antes servem de museus para os visitantes. Ao entrar nestas casas, somos transportados no tempo e quase vemos os camponeses e artesãos que lá viviam, a vaguear no etéreo. São casas grandes que albergavam famílias numerosas, mais uma vez por questões práticas de poupança de energia e de outros recursos e porque o calor humano também ajudava a torná-las mais acolhedoras.
É uma pequena aventura sair do rés-do-chão e subir aos andares de cima: escadinhas de madeira íngremes e apertadas, pouco sítio onde agarrar e o chão não é totalmente fechado, mas em grelha, para que os fumos da fogueira possam ascender facilmente até ao telhado. As pessoas com vertigens e medo das alturas não conseguem visitar esses andares e acabam por perder parte da experiência. O sotão era também o sítio onde os habitantes criavam bichos da seda e processavam os casulos para fazerem seda e nalgumas casas ainda se conservam os instrumentos tradicionais usados para essa actividade.
Hoje em dia já não se constroem mais casas destas, nem mesmo em Shirakawa-Go. Foi-me dito que são demasiado caras, porque necessitam de imensa madeira e colmo, além de mão-de-obra muito especializada, que hoje em dia apenas se dedica a manter intactas as casas pré-existentes. Antigamente toda a aldeia colaborava na construção e manutenção destas casas, mas hoje em dia são poucas as pessoas que ainda conhecem os segredos destas construções e não se sabe por quanto tempo elas continuarão a existir.
Disseram-me que eu era muito afortunada por estar lá no momento exacto em que estavam a renovar o telhado de umas das casas e eu senti realmente que era algo especial.
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