VIAGENS (lá fora): Odisseia até lado nenhum

Custou deixar o Belize. Oh, se custou! Por isso mesmo, adiamos um pouco mais a partida. Apenas umas horas. O suficiente para nos complicar a vida.

Mais um passeio de kayak. E umas braçadas. Espreguiçadeira. mergulho. Sair de novo… eram apenas 10:00 quando apanhamos o taxi-boat para deixar a ilha. Já saudosa.

Em terra de ninguém, a melhor definição para a incaracterística Independencia, as malas foram literalmente arrastadas (fim de linha no seu estado de ‘saude’) uns bons 500 metros até à suposta paragem de autocarro. De Independencia, seguimos a toda a velocidade para Punta Gorda, onde iríamos apanhar ferry. Na melhor das hipóteses, para as Honduras. Mais próximo do objectivo. Na pior, para a Guatemala.

Tinham-nos dado mal o horário. A lancha rápida partiria as 13:00. Estamos a comprar os bilhetes já com 10 minutos de atraso. E temos de levantar mais dólares do Belize para pagar a saída do país. Sem multibanco por perto…

“Tranquilos, vão a tempo do barco”, diz-nos o vendedor, de origem africana. Obviamente, desconfiamos. Meia hora mais tarde – atrasamos significativamente o horário da viagem - ele mesmo conduzia a lancha. Éramos 16 passageiros.

Hora e meia a “voar” sobre as lisas águas do Mar das Caraibas/Golfo das Honduras. Costa cada vez mais próxima. Praias privativas. Casas de sonho. Sinais de riqueza. Chegamos a Livingston.

Metade dos passageiros sai. Lancha avança 20 metros. “Puerto Barrios”, surpreendeu-nos o ‘capitão’. Olhamos para ele. “Estou a brincar. Apenas vamos meter gasolina”. E ri-se sozinho. Ate nos juntarmos em sonora gargalhada.

Pelicanos em voo rasante ao mar sereno marcaram mais este trajecto, de uns 20 minutos. Outras aves se lhes juntaram. Belas imagens de aves de vida marinha.

Chegamos a Puerto Barrios. Não há emigração. Perguntamos. “Têm de ir carimbar o passaporte a uns 200 metros daqui. Naquela rua. Do lado direito”. Estranho, mas seguimos as instruções. Estavam correctas. Poderíamos ter entrado e saído do país sem ninguém saber.

O inevitável taxista chega. Pede-nos 75 quetzais a cada. Acaba por baixar para os 50. Já tem três senhoras como clientes a compor a viatura. Acaba por nos levar também. Táxi sobrelotado.

Cinquentenária brinca com os pelos das pernas do Carlos. No banco de trás. Amassados. Não o podemos auxiliar. Eu e Zé Luís sem margem de manobra. Partilhamos o acidentado banco da frente da ‘lata’ que nos conduziria à fronteira. Ninguém usa cinto de segurança. Nesta zona do globo, isso é um pormenor.

Demoramos a oficializar a saída da Guatemala. Tão só uma hora depois de termos entrado. Mais uns intermináveis 10 quilómetros até ao posto fronteiriço hondurenho. Com outro “nível”.

Já perdemos “chicken bus” para San Pedro de Sula. Temos de esperar uma hora pelo próximo. Decidimos almoçar. São 16:30. Enquanto não partimos no autocarro que começa a encher, pedimos boleia aos raros TIR que passam. Desistimos. Malas no bus.

Entretanto, um motorista que tinha parado minutos antes para comer algo pergunta-nos para onde vamos. Temos destino comum. A sorte continua a acompanhar-nos.

Nesse dia queríamos chegar ao lago Yojoa. Um dos pontos mais interessantes das Honduras. Ainda a perto de duas horas de San Pedro de Sula. Roque, o católico condutor, recebe uma chamada. Afinal, tem de seguir para a capital. Desalento dele. Quase-euforia nossa.

Tudo tranquilo até que pneu rebenta. No pior momento. Roque, que exalta o seu lado religioso, não parava de receber chamadas telefónicas femininas. De uma vez atendia “mi amor”. Na seguinte, “mi reina”. Falava com a sua rainha quando se ouviu o estoiro. O seu semblante mudou. Por completo. Pára em terra de ninguém.

“Há aqui este hotel. É o melhor lugar para dormirem”, dispara. E parte. Sem aceitar a nossa ajuda. Amavelmente.

Ficamos a uns 30 minutos da “praia”. A espelunca seria a pior onde dormimos nesta aventura. E com preços mais altos. No dia seguinte, perceberíamos que até no azar tivemos sorte.

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