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“Onde é que nós acabamos como seres humanos e começamos como personagens?” Frederico Corado
A “Casa de Campo” é uma peça de teatro sobre teatro. O que é ficção? O que é realidade? Onde termina a personagem e começa o actor? Onde acaba o amor e nasce a desilusão?
Esta é uma história absurda, recheada de surpresas, que certamente irá fazer o público rir. Uma comédia romântica, que aborda as temáticas mais corriqueiras e conhecidas de todos nós: as relações amorosas, as inquietações e frustrações humanas. É uma história de vidas: de três casais e um escritor.
Uma casa de campo. Sintra. Estorninhos. Um diário escondido. Emoções à flor da pele. Estorninhos novamente. Estes são os ingredientes suficientes para fazer ferver um enredo que o vai pregar à cadeira da plateia do Teatro Villaret.
São cinquenta minutos de surpresas atrás de surpresas, baseadas em histórias que ressoam em cada um de todos nós. Contradições, traições, segredos e mentiras. Baseada em contos do Woody Allen e de outros autores como Ingmar Bergman, a “Casa de Campo” é uma peça sobre amor e sobre teatro, sobre pessoas e sobre personagens, que ganham vida e vontade próprias.
O MyGuide conversou com José Raposo, um dos protagonistas da “Casa de Campo” e com Frederico Corado, encenador e cenógrafo deste projeto que estará em cena, até ao dia 30 de Março, no Teatro Villaret.
Como surgiu a ideia de fazer a “Casa de Campo”?
José Raposo: O Miguel (Raposo) teve esta ideia, na praia. Estivemos a ler uns contos do Woody Allen. A “Casa de Campo” não é nenhuma adaptação de nenhum texto em concreto do Woody Allen, foi inspirado em vários autores, sendo que este era um autor de quem o Miguel gostava muito, e todos nós também. Inspirámo-nos ali para fazer um esboço daquilo que hoje é a “Casa de Campo”. O Miguel foi escrevendo e falámos logo com o Frederico, na hipótese de nos dirigir.
Frederico Corado: Foi um grande impulso. É a primeira peça que eu enceno no Teatro Villaret. Até agora tenho encenado coisas com vários actores, desde a experiência em teatro comunitário no Cartaxo, a outros projetos, mas muito mais na vertente do teatro independente. Encenar um espectáculo com esta visibilidade e desta envergadura, com actores como o José Raposo e o Joaquim Nicolau, é de facto a primeira vez.
Como foi o processo de construção da peça?
Frederico Corado: A construção deste projeto deu-se ao longo de quatro meses de trabalho, em que começámos à mesa das nossas casas, com um esqueleto de um texto, que foi constantemente alterado, e em que cada um de nós dava sugestões. Falava-se no Woody Allen, mas também falávamos do Bergman ou do Almodóvar, passando por muitas outras influências que existem neste espetáculo. É uma comédia romântica, sobre traições e infidelidades. É uma história de vida, completamente absurda. A peça é sobre teatro, sobre relações humanas e amorosas. No fundo, a “Casa de Campo” é sobre o complicado mundo das relações interpessoais. Mas é também, sobre o processo de construção teatral, e sobre o que temos de mais frágil enquanto seres humanos.
Onde é que nós acabamos como seres humanos e começamos como personagens?
José Raposo: Acima de tudo o que é extraordinário nesta peça, é que estamos a falar de personagens, escritas por um autor, que às tantas irrompe pela peça adentro. É um espectáculo muito abrangente que chega a vários tipos de público.
Frederico Corado: É engraçado que as pessoas são selectivas. Há sempre alguém a reflectir-se em algumas das personagens.
Até que ponto a comédia ajuda o público a lidar com as questões mais complicadas da vida?
José Raposo: Eu acho que o humor é o melhor veículo de transmitir seja o que for. Sempre achei isso. De facto, tenho feito muito mais comédia, porque sou mais solicitado para tal, mas também porque considero que seja a melhor forma para transmitir qualquer tipo de temática.
Frederico Corado: Penso que esta peça é uma verdadeira sessão de psicoterapia.
José Raposo: Acima de tudo é uma peça de contradições, nós vivemos todos em constantes paradoxos. O ser humano é assim. O próprio processo de construção da peça, foi uma grande contradição. Estes quatros meses foram não só a descoberta de um caminho, mas também a confrontação com as dificuldades de produção, que atrasaram a estreia da Casa de Campo.
Porquê a escolha do horário às 19:30?
José Raposo: Sendo uma peça que dura cerca de uma hora, começa às 19:30 e acaba às 20:30. É um conceito novo, a seguir pode-se ir jantar. No fundo quisemos fazer o que se faz em Inglaterra, em França e noutros países europeus. Queremos dar a possibilidade das pessoas saírem directamente do trabalho, assistirem a uma peça de teatro e a seguir estarem livres cedo para fazerem o que quiserem.
Como surgiu a ideia do cenário?
Frederico Corado: Toda a acção se desenrola dentro da estrutura da casa. A peça é sobre desconstrução teatral, a intenção é desconstruir também a própria casa. No fundo é um cenário inacabado que simboliza o esqueleto das relações humanas. Mistura mobiliário contemporâneo com antiguidades portuguesas.
Casa de Campo às 19:30 e “Isto É Que Me Dói” às 21:30. José Raposo, como é o processo de “despe e veste” das diferentes personagens?
José Raposo: Não é complicado. Tenho um espaço de uma hora, entre o final de uma peça e começo de outra. Eu fiz muita revista à portuguesa, e não tinha uma hora para despir e vestir os personagens, tinha um minuto, segundos às vezes, em que fazíamos personagens, umas atrás das outras. E não era só despir literalmente a roupa, mas também a personagem, e aí sim, é o género de representação mais difícil que eu experimentei até hoje. Aqui não, porque temos um certo tempo. Um actor veste a personagem no momento em que vai entrar em palco, ou no plateau. Claro que há preparações e tempos de concentração. São personagens diferentes de facto, mas esse é que é o gozo de um actor, poder fazer personagens completamente diferentes.
Numa temporada em que o que está a dar é combater as vicissitudes da vida com um sorriso, o Teatro Villaret faz jus ao seu fundador, Raúl Solnado, com duas comédias em cena: “Casa de Campo” de quinta a sábado, num horário inovador, às 19:30, e “Isto É Que Me Dói”, nos mesmos dias às 21:30, e aos domingo às 16:00.
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